De acordo com a sentença do caso, o acusado pegará dois anos de reclusão em regime aberto; família não aceita decisão e quer justiça
Leila ao lado do marido José Carlos segurando a sentença do caso; família quer pena mais rigorosa para o acusado
Aline Ruiz
A vida da família de José Carlos Padoan nunca mais foi a mesma. Foi o que afirmou a sua esposa, Leila dos Santos Padoan. Ele foi espancado em janeiro de 2012 durante uma partida de futebol no bairro rural do Barreiro, em Votuporanga. Devidos às graves lesões, ele perdeu a visão e sofreu traumatismo craniano encefálico. Neste mês, a sentença do acusado foi divulgada e o mesmo pegará dois anos de reclusão em regime inicial aberto. A decisão chocou os familiares de José Carlos, que buscam agora que a justiça reveja o caso e decrete uma pena mais justa.
Em conversa com o A Cidade, Leila dos Santos Padoan, 46 anos, casada com José Carlos há 30 anos, contou como a vida ficou difícil depois do que aconteceu com o marido. “A nossa vida agora é ficar dentro de casa, porque ele não consegue sair e eu não posso deixar ele sozinho. O comportamento dele oscila, às vezes ele chora e outra vezes fica nervoso, não temos mais paz”, disse Leila.
José Carlos, hoje com 54 anos, passou por uma cirurgia de 12h no Hospital de Base de São José do Rio Preto e ficou entre a vida e a morte na época. “Os médicos estavam desacreditados, mas ele conseguiu sobreviver. Hoje ele vive com 79 pinos na cabeça e mais 8 placas no rosto, além disso, a visão, o paladar e a audição dele foram afetadas, as sequelas foram muito grandes, sem contar que ele não faz mais nada sozinho e precisa tomar remédios pelo resto da vida”, contou.
Sentença
Neste mês, a família recebeu a decisão do caso, assinada pelo juiz da 2ª Vara da Comarca de Votuporanga, Reinaldo Moura de Souza. Nela, consta que o acusado de espancar José Carlos, Christian Henrique Alves Fonseca, pegará dois anos de reclusão em regime inicial aberto. Sobre o assunto, Leila disse que não se conforma e que ainda quer que a justiça seja feita. “Nossa vida acabou. Ele não aceita o que aconteceu com ele e sofre muito, o cara que fez isso ficou livre esse tempo todo e agora vai cumprir essa pena de nada? É um absurdo”, desabafou.
Segundo a sentença, algumas testemunhas de defesa afirmaram que a vítima e seu filho que iniciaram a discussão durante a partida de futebol. Por outro lado, o filho da vítima disse durante depoimento que quem começou a discussão foi Christian e seu pai. O acusado não compareceu em juízo para dar a sua versão sobre os fatos, alegando que estaria sendo ameaçado pela família da vítima.
Sobre a afirmação do acusado, Leila revelou que o que ele disse foi uma inverdade. “Depois do que aconteceu nós não vimos mais o Christian. Ele sempre jogava bola com o nosso filho, não queremos fazer justiça com as próprias mãos, queremos que a justiça seja feita do jeito certo, só que estamos muito decepcionados”, disse.
O advogado de Leila responsável pelo caso, Cleber Costa Gonçalves do Santos, vai recorrer da sentença. Para o A Cidade, ele afirmou que vai pedir que o caso seja tratado como crime contra vida e vá para o Tribunal do Júri. “Eu entendo que o caso merece uma apreciação diferente. Costumo comparar o que aconteceu com o José Carlos com o que aconteceu com o Tonny em 2010, foi a mesma coisa, ele foi espancado na saída de uma festa”, disse.
Um dos problemas apontados pelo advogado é o tempo que o caso demorou para ser resolvido. “Faz cinco anos que o crime aconteceu, vamos recorrer a sentença, mas é difícil mudar devido à prescrição, que no direito significa a perda da proteção jurídica relativa ao direito pelo decurso de prazo. Por isso que a família está indignada, o autor ficou foragido esse tempo todo e ainda pegou uma pena mínima que pode ser cumprida em liberdade”, completou.
Relembre o caso
Segundo o relato de Leila, ela, o marido e o filho estavam no campo do bairro rural do Barreiro, acompanhando uma partida de futebol entre o time do Barreiro e um time do São Cosme quando, em determinado momento, o filho da vítima, Wendel Fernando dos Santos Padoan, se envolveu em uma discussão com um outro rapaz, chamado Christian. Ao tentar intervir, José Carlos teria levado uma rasteira de um outro indivíduo, conhecido como “Baiano” e, em seguida, foi atingido por um chute no rosto.
A agressão aconteceu em janeiro de 2012 e, na época, Leila teve o boletim de ocorrência registrado com a natureza de “lesão corporal”, no Plantão Policial Permanente. Posteriormente, o caso foi encaminhado ao Segundo Distrito Policial.