Não foram entregues 1.500 megawatts médios de energia elétrica contratados em leilão no ano passado
Ao longo de 2013, uma quantidade relevante de energia deveria ter sido usada para abastecer mais de 4 milhões de habitantes, mas não foi. Devido a atrasos em projetos de hidrelétricas, termelétricas e eólicas, 1.500 megawatts médios (MWm) não entraram em operação — o que seria suficiente para abastecer todo o consumo das cidades de Belo Horizonte e Curitiba juntas. Segundo levantamento da consultoria Excelência Energia com base nos dados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 900 MWm correspondem ao compromisso de hidrelétricas, 550 MWm de eólicas e 50 MWm de térmicas. Esses valores representam a diferença entre as obrigações contratuais assumidas por concessionárias elétricas em leilões e a energia que efetivamente foi gerada.
As principais razões para o atraso, segundo a consultoria, são problemas no cronograma de construção das geradoras nas linhas de distribuição. Veja os maiores gargalos que impedem a entrega dos projetos. Confira:
Eólicas — O cronograma de obras do sistema de transmissão não acompanhou o de geração. A carga vendida pelas centrais no leilão de reserva de 2009 já deveria estar disponível ao sistema desde julho de 2012 — entre eles os 14 parques da Renova Energia na Bahia, de 294 megawatts ( ou 134 MW médios) de capacidade instalada. A empresa entregou os aerogeradores no prazo, mas os aparelhos não foram integrados ao sistema porque a linha de transmissão da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) está atrasada. Em comunicado publicado na última quinta-feira, a Chesf confirmou que as obras da Subestação Igaporã II de 230/69kV, no município de Caetité, no sudoeste da Bahia, estão fora do prazo, “mas já se encontram avançadas, com previsão de energização para março deste ano”. Mesmo sem ter terminado as obras em andamento, a Chesf já está à procura de empresas parceiras para participar de projetos de geração a serem leiloados pela Aneel.
Hidrelétricas — O exemplo mais emblemático é o da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia. O atraso médio das turbinas é de seis meses, mas há unidades geradoras que deveriam ter entrado em operação no fim de 2012, mas só deverão começar a funcionar no primeiro semestre deste ano. A energia da usina foi contratada no leilão A-5, em 2007, no qual ficou estabelecida a entrada da carga no sistema nacional cinco anos após o pleito.
A usina-irmã de Santo Antônio, Jirau, também no rio Madeira, está com o cronograma relativamente em dia, mas esbarra em outro problema: as linhas de transmissão que estão sendo construídas pelo consórcio formado por ISA Cteep, Furnas e Chesf, vencedor do leilão em 2009. As duas linhas que ligarão as subestações de Porto Velho (RO) a Araraquara, no interior de São Paulo, e trarão a energia ao Sudeste, estão atrasadas. Segundo dados da Aneel, uma delas deveria estar pronta desde fevereiro do ano passado. Mas, sua previsão de conclusão, hoje, é agosto de 2014. “Sem as vias, ou, pelo menos, uma delas, o sistema fica comprometido e dificilmente toda a energia que poderia ser repassada para o Sudeste será entregue”, diz Erik Rego, diretor da Excelência Energética.