Indicadores de processo em mamografia na DRS-XV (SP): aprendizados para a retomada pós-COVID-19
Dr. Hamilton Zúniga
Dr. Hamilton Zúniga
Votuporanga e região — Um estudo de base ecológica defendido como dissertação de mestrado no A.C. Camargo Cancer Center por Dr. Hamilton Zúniga, oncologista clínico e diretor do Instituto de Cancerologia de Votuporanga (IC), mostra que a pandemia de COVID-19 provocou uma queda importante no rastreamento do câncer de mama na DRS-XV (região de São José do Rio Preto). O trabalho analisou indicadores de processo do programa de mamografia do SUS entre 2017 e 2022 e traz lições práticas para reorganizar a rede e proteger as mulheres — especialmente as de 60 a 69 anos, faixa etária com maior risco e menor adesão após a pandemia.
“Rastreamento não é apenas ‘fazer exame’. É regularidade (a cada dois anos), acesso rápido ao laudo e caminho ágil para a biópsia quando algo suspeito aparece. A pandemia quebrou esse ciclo. Agora, precisamos retomar com método para salvar vidas e evitar diagnósticos tardios”, afirma o Dr. Hamilton.
O que o estudo encontrou
• Queda de cobertura do rastreamento a partir de 2020 em diversas microrregiões da DRS-XV.
• Piora na periodicidade bienal (mulheres deixando de repetir a mamografia no intervalo recomendado).
• Desigualdades regionais: algumas microrregiões mantiveram melhor oferta do que outras.
• Tempo de resultado do exame variando entre regiões — em vários locais, ainda distante da meta de laudo em até 30 dias.
Por que isso importa?
Quando a cobertura cai e a periodicidade falha, lesões pequenas deixam de ser detectadas. O resultado é diagnóstico mais tardio, tratamentos mais duros e caros e pior prognóstico. No SUS, organizar o rastreamento é a forma mais custo-efetiva de reduzir mortalidade por câncer de mama.
As consequências se nada for feito
• Aumento de tumores em estádios avançados nos próximos anos.
• Mais cirurgias radicais e necessidade de radio/quimioterapia intensivas.
• Pressão financeira sobre o sistema de saúde e impacto social sobre famílias.
O plano de retomada proposto
O estudo recomenda um conjunto de ações factíveis para os próximos 90–180 dias:
• Meta municipal por microrregião: recuperar +10 pontos percentuais de cobertura onde houve maior queda.
• Convocação ativa (UBS ligando e enviando mensagem) de mulheres de 60–69 anos e das que estão há >24 meses sem exame.
• Vagas extras e mutirões coordenados entre municípios, priorizando bairros/áreas com maior fila reprimida.
• Prazo de laudo ≤30 dias: pactuar com os serviços contratados um SLA simples e público; fila de biópsia com prioridade 1 para BI-RADS 4/5.
• Transporte e horários estendidos: ampliar acesso para quem trabalha em horário comercial (noite/sábado).
• Comunicação direta: campanha regional com mensagem única — “Se tem entre 50 e 69, faça sua mamografia a cada 2 anos.”
“Isso não é uma utopia. É gestão básica com foco em quem mais precisa: mulheres nos extremos da faixa (50–54 e 65–69) e nas áreas com maior queda de cobertura. A boa notícia é que a rede já existe; falta organizar e priorizar”, destaca o Dr. Hamilton.
Serviço à população
• Quem deve fazer mamografia? Mulheres de 50 a 69 anos, a cada 2 anos, mesmo sem sintomas.
• Como agendar no SUS? Procure sua UBS. Se já faz mais de 2 anos desde seu último exame, priorize.
• E se o exame vier alterado? A UBS e o serviço de mamografia orientam os próximos passos (ultrassom, biópsia). Não falte aos retornos.
*Sobre o autor e a instituição
*Dr. Hamilton Zúniga é Mestre em Oncologia pelo A.C. Camargo Cancer Center e diretor do Instituto de Cancerologia de Votuporanga (IC). O IC é uma clínica privada que atua com foco em prevenção, diagnóstico e tratamento oncológico baseado em evidências e, por meio deste estudo, reafirma seu compromisso em contribuir tecnicamente com a saúde pública local, apoiando a qualificação do rastreamento mamográfico e o diálogo com os gestores municipais.