José Aparecido Francisco, o Zé Carabina, foi condenado pelos dois crimes que era acusado
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.
José Aparecido Francisco, o Zé Carabina, saiu do tribunal do Fórum da comarca ontem direto para um dos xadrezes da Cadeia Pública de Votuporanga. O réu foi condenado pelo júri pelos dois crimes que era acusado (abuso sexual mediante fraude e tentativa de aborto). No total, a pena é de sete anos e oito meses de cadeia. Como durante o julgamento, testemunhas afirmaram que receberam ameaças e diante da possibilidade de novas vítimas surgirem, o juiz Jorge Canil decretou a prisão preventiva de Carabina, que terá que pagar sua pena em detenção. A defesa irá recorrer da decisão.
O julgamento teve início às 9h e terminou às 16h40. O réu recebeu pena de cinco anos de prisão por ter mantido relações sexuais com adolescentes, com pretexto de tudo fazer parte de rituais para conquistas amorosas. A pena para esse crime é a mesma do primeiro julgamento, ocorrido em 2009. A diferença desta vez é que Zé Carabina também foi condenado por tentativa de aborto, crime que havia sido absolvido três anos atrás.
Os trabalhos no tribunal começaram com o sorteio dos nomes para o Conselho de Sentença, na presença do réu, dos advogados Gésus Grecco e Jaime Pimentel e do promotor João Alberto Pereira. Apenas jurados homens foram sorteados. Após o sorteio, teve início as audiências com as testemunhas de defesa e acusação. A primeira pessoa a ser interrogada foi uma mulher de 26 anos, que participou de sessões com Carabina e também é madrasta de uma das adolescentes vítimas do réu.
Em seguida ocorreu um dos depoimentos mais importantes. A jovem, identificada como "Jéssica", que engravidou após ter mantido relações sexuais nas sessões espirituais. Ela contou detalhes de como foi persuadida a participar dos trabalhos para conquistar um namorado e de como o réu a orientou a realizar um aborto. "Quando ele se aproximou pela primeira vez, disse coisas sobre mim que ninguém mais sabia. Ele me convidou para fazer um trabalho, chamado 'cruzado', para que eu conquistasse o rapaz que eu gostava. Quando entrava no quarto ele incorporava guias espirituais, como Joaninha, Zé Malaquias e Zé Pilintra. Após as sessões eu engravidei. Ele disse que eu não podia ter esse filho e me deu vários chás, pinga com arruda e um veneno chamado buchinha para eu tomar, mas eu apenas passei mal e não houve o aborto. dias depois ele me entregou um remédio e disse que deveria ingerir dois orais e dois seriam introduzidos na vagina. Ele disse que iria resolver", afirmou a jovem.
Jéssica disse também que após tomar o remédio, acabou passando muito mal, e foi socorrida na Santa Casa, onde o aborto foi evitado. Além dela, outras moças, adolescentes na época, também contaram detalhes sobre o modo de persuasão de Zé Carabina. "Depois que conheci o Zé Carabina, nunca mais fui feliz. tenho medo dele. medo dele ficar solto e um dia fazer algum mal para minha filha", disse uma testemunha.
Empregada revela aborto
Curiosamente, uma mulher que foi empregada de Zé Carabina, arrolada como testemunha de defesa, acabou entregando detalhes graves sobre o ex-patrão. Ela afirmou que também participou dos trabalhos envolvendo relações sexuais quando tinha 17 anos. Após meses sem ver o pai de santo, quando ja estava casada e grávida de quatro meses, a empregada disse que foi à casa dele, que disse que ela estava com uma infecção na barriga. "Ele disse que eu estava doente, mas eu estava grávida. Ele me convenceu a beber pinga com arruda. Instantes depois, mal conseguir andar e fui levada para o hospital, onde acabei perdendo o bebê. Depois disso ele ainda me perseguiu e ameaçou", afirmou.
Carabina
Incomodado com os flashes da imprensa, Zé Carabina negou todas as acusações e disse ser vítima de armação. "Eu não sou pai de santo, sou filho de santo. A diferença é muito grande. Eu não mantive relações sexuais com ninguém. Querem me prejudicar. Nego tudo. Não dei remédio para ninguém. Estou levando calúnia dos outros", se defendeu. Após a sentença, José Aparecido Francisco foi algemado e conduzido à cadeia local, de onde aguarda transferência para um presídio da região.