Mercedes Rodrigues, prima do aviador desaparecido agradece às orações; Evandro e co-piloto foram libertados pelos sequestradores
Reencontro do piloto com familiares foi emocionante e aconteceu em cidade do Mato Grosso
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
Um telefone às 2h de ontem, deu fim a 40 dias de desespero para uma família votuporanguense. Isso porque nesse momento, é que surgiu a informação de que o piloto Evandro Rodrigues Alves e o co-piloto Rodrigo Frais Agnelli, sequestrados juntos com o avião em que estavam no Mato Grosso, foram liberados e encontrados no estado de Rondônia, no Norte do país.
Evandro possui os pais, irmãos, tios e primos em Votuporanga, e foi aluno do aeroclube local. Mercedes Rodrigues, pessoa bastante conhecida na comunidade é uma das primas do piloto e relatou, em entrevista ao grupo Cidade, os longos momentos de desespero, e sobretudo de fé, que a família viveu por todo o tempo sem notícias concretas sobre o paradeiro dele e do amigo co-piloto.
Mercedes conta que recebeu a notícia do sumiço pela prima dela, irmã de Evandro. “Foi o maior susto. Ela contou que o avião havia sido sequestrado e que o piloto e o co-piloto haviam ido junto. Começou aquele desespero, mas sabíamos que outros pilotos já haviam sido sequestrados da mesma forma e encontrados. Ficamos no desespero, mas achando que eles ficariam reféns por um tempo mínimo possível, mas infelizmente foram 40 dias”, relata.
A prima diz que o sofrimento da família foi muito grande, e que todos praticamente pararam as vidas para esperar o Evandro e o Rodrigo voltarem. Dessa forma, segundo ela, foi criada uma corrente gigantesca de fé e orações para um desfecho feliz para a situação tão dramática. “Formamos uma corrente a nível de Brasil. Gostaríamos de agradecer a essas pessoas, que torceram por eles, homens trabalhadores que têm filhos para criar. Agora está todo mundo feliz”.
Mercedes conta ainda que durante muito tempo não houve contato algum indicando que eles ainda estivessem vivos, tendo no entanto, muitas informações desencontradas.
“Foi uma loucura. Mas depois de 25 dias, houve o primeiro contato com um primo, o Cássio, irmão do Evandro. Os sequestradores falaram em espanhol, deviam ser bolivianos, e fizeram um contato de apenas 20 segundos dizendo que eles estavam bem, mas achamos que poderia ser uma informação falsa”. Ainda segundo ela, o avião sequestrado ficou em poder dos criminosos.
Desfecho
Evandro descreve a libertação como ‘renascimento’
O piloto Evandro Rodrigues, durante uma rápida entrevista à imprensa, considerou como sendo um verdadeiro ‘renascimento’ o momento da chegada no território brasileiro. Ele confirmou ainda que não sofreu nenhum dano físico durante o período em que foi mantido em poder dos sequestradores.
A chegada dos pilotos a Pontes Lacerda, no Mato Grosso foi emocionante. Eles foram recebidos por familiares e contaram à imprensa detalhes do período de sequestro. “Nós ficamos em vários lugares, em casas, em ranchos. A demora foi referente a compra [da aeronave roubada]. No final acabaram nos pegando de reféns dos compradores”, contou o piloto Evandro. Ele disse que uma mulher chegou a cozinhar e que chegou a comer arroz em copos descartáveis, sem passar fome. “Nossa saída foi muito arriscada. Se o pessoal soubesse que estávamos liberados seria perigoso”.
Emocionados, os pilotos descreveram à imprensa que passaram muito medo após serem liberados, já que não sabiam a quem recorrer no momento em que foram abandonados ainda em território boliviano. Os pilotos confirmaram que os dois sequestradores são brasileiros e que o avião seria revendido a estrangeiros. A aeronave roubada já ‘ganhou uma nova cor’ e também teve um ‘novo prefixo’ pintado pelos bandidos.
Em conversa com os jornalistas o deputado José Riva, no aeroporto Marechal Rondon, onde ele e a esposa aguardavam a chegada dos pilotos, avaliou que o trabalho de investigação da polícia não foi eficiente, mas ponderou que é complicado atuar em um território estrangeiro.
Conforme o relato, de forma espontânea, os sequestradores liberaram as vítimas, que procuraram a polícia local e, posteriormente, entraram em contato com a família e com Riva. Segundo o parlamentar, houve um desentendimento entre os criminosos sobre a venda do avião, um King Air, modelo C90GTI, de 2006, prefixo ATY – de propriedade da esposa e candidata derrotada a governadora Janete Riva, e que foi roubado no dia 20 de setembro, em Pontes e Lacerda-MT. A aeronave continua sob a posse dos bandidos e não há pista de onde esteja.
Na manhã de ontem os dois pilotos ainda prestaram depoimento à Polícia Civil local. “Foram 40 dias de muita angústia. Todos os outros problemas são muito pequenos. Eles vão narrar a história em detalhes quando chegarem aqui, mas nesse tempo todo eles me contaram que nunca desceram em nenhuma cidade. Sempre, somente em pistas e andando em zigue-zague. No primeiro dia voaram por uma hora e pararam em uma pista muito ruim. Dava pra perceber que era um local abandonado, cheio de morro, de cupim. No segundo dia, voaram duas horas e depois mais meia hora. Sempre ficaram de costas para os ladrões, com os meninos encapuzados. Eles diziam que não precisavam esconder o rosto”, disse Riva. (Com informações de Olhar Direto-MT)