A estudante Mariana Hipólito achou as questões até que fáceis, mas ‘travou’ na redação; o professor Fábio Martins achou o tema difícil
A estudante Mariana Hipólito e o professor Fábio Martins comentaram sobre a proposta de redação e questões da primeira prova do Enem (Fotos: Arquivo pessoal e Unifev)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
Faltando segundos para as 19h, a estudante Mariana Hipólito, de 17 anos, entregou a primeira prova do Enem, aplicada no fim de semana. Mesmo usando técnicas para otimizar o tempo gasto para responder as questões, Mari ficou entre as últimas três pessoas que saíram da sala onde fez a prova, no Campus Centro da Unifev. O que a prendeu por cerca de uma hora e meia na classe foi a redação, conforme ela contou ao jornal
A Cidade, em entrevista.
Na edição deste ano, a proposta da redação foi: “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. Um tema que a estudante considerou difícil, acompanhado de uma coletânea de textos que, para ela, não foram úteis. Foi por isso, inclusive, que Mari sentiu uma espécie de bloqueio na hora de discorrer sobre o assunto.
“A coletânea estava horrível, porque não tinha muita informação. Quem não tinha muito conhecimento ou repertório sobre aquele tema, não deve ter conseguido desenvolver bem [a redação]”, disse a aluna.
Agora, a estudante aguarda o próximo domingo (28), quando a segunda prova será aplicada, trazendo questões sobre Ciências da Natureza e Matemática.
Redação
O professor de literatura do Colégio Unifev, Fábio Martins, também considerou a proposta da redação difícil. E, para ele, o recorte temático foi técnico demais.
“Foi um tema muito técnico e fora da realidade do aluno. E é um assunto que não dá manchete, então aparece na imprensa de maneira muito sistemática. Fica muito difícil ter repertório sobre isso. Agora, do ponto de vista de ser uma questão ligada a cidadania, foi coerente com o que o Enem pede”, explicou.
Fábio também comentou sobre a coletânea, que, para ele, estava coerente com as coletâneas das últimas edições. Ainda segundo o professor, o que dificultou explorá-la foi a falta de repertório dos candidatos sobre o recorte temático.
“Eu não achei que a coletânea de textos diferiu tanto [das edições passadas]. Achei que manteve uma coerência. O aluno que conseguisse dialogar com aqueles textos, conseguiria desenvolver algum nível de argumentação, desde que tivesse repertório. Quando o aluno não tem repertório, o diálogo com os textos não acontece, porque ele não tem nada a propor nem a perguntar. Fica até difícil interpretá-los”, disse o professor Fábio.
Questões
Já em relação às questões – que, nesta prova, foram sobre Linguagens e Ciências Humanas – Mari contou que as achou mais fáceis do que estava esperando. Além disso, ela contou que essas são as áreas com as quais tem mais afinidade.
“Eu achei mais fácil do que estava esperando. Depois das declarações que eu vi durante a semana, sobre a prova, fiquei bem assustada. Mas quando fui fazer a prova, achei que estava mais fácil. Estava esperando algo bem pior”, contou a estudante.
Para o professor, as questões, assim como a proposta da redação, se debruçaram sobre questões relacionadas ao pleno acesso à cidadania e, por isso, foram coerentes com as edições passadas do exame. Ainda deste ponto de vista temático, ele destacou que as questões abordaram uma quantidade grande de grupos culturais da sociedade brasileira, como, por exemplo, as mulheres, pessoas negras e indígenas.
Já do ponto de vista técnico, o professor destacou que as questões trouxeram uma proposta avançada de interação de linguagens que obriga tanto as escolas quanto os professores a se renovarem. “É o texto escrito em relação a uma imagem, quadrinho, charge, campanha, gráfico etc. Isso é muito interessante, porque os alunos precisam ter domínio de várias linguagens”, disse.
O professor também apontou que as questões abordaram questões e problemas atuais da sociedade, o que ressalta que os alunos precisam se manter antenados ao que os veículos de comunicação andam publicando.
“O Enem pediu conhecimento geral muito amplo e conhecimento sobre temas atuais, que exigiam dos alunos contato com ‘veículos de comunicação de gente grande’, como eu costumo dizer. São problemas adultos”, finalizou Fábio.