O recente aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos importados, o chamado “tarifaço”, teve como objetivo proteger setores estratégicos da economia norte-americana.
Essa medida não teve como objetivo beneficiar produtores estrangeiros ou facilitar as importações. Pelo contrário: ao tornar mais caro o produto que chega de fora, o governo americano cria um escudo para que suas indústrias tenham espaço para crescer, inovar e competir em condições mais equilibradas.
Essa lógica é compartilhada por diversas nações que adotam instrumentos para defender seus interesses estratégicos, seja por meio de tarifas, subsídios, exigências de conteúdo local ou políticas de compras governamentais voltadas ao mercado interno.
O contraste com o Brasil é evidente e preocupante. Aqui, mesmo quando empresas nacionais oferecem produtos de alta qualidade, certificados segundo padrões internacionais e com preços muito mais competitivos, ainda assim acabam preteridas em favor de fornecedores estrangeiros. Não se trata apenas de perder contratos e sim de abrir mão de empregos, tecnologia, arrecadação tributária e autonomia industrial.
Há exemplos que deixam essa incoerência nítida: produtos fabricados no Brasil com rigorosos padrões de qualidade, inclusive compatíveis com certificações exigidas na Europa e nos Estados Unidos, chegam ao mercado nacional por valores muito inferiores aos importados.
Ainda assim, grandes companhias e até órgãos públicos optam por comprar de fora, pagando múltiplas vezes mais pelo mesmo desempenho. É como se houvesse uma crença enraizada de que o que vem do exterior é automaticamente melhor, quando, na realidade, muitas vezes ocorre o contrário.
Enquanto outros países estruturam políticas para estimular a indústria doméstica, o Brasil insiste em abrir mão de instrumentos que poderiam equilibrar a competição. Isso passa por priorizar empresas nacionais nas compras públicas, oferecer linhas de crédito e incentivos fiscais para reduzir custos, estabelecer exigências de conteúdo local em setores estratégicos e promover campanhas institucionais que valorizem o “fabricado no Brasil”.
Proteger e fortalecer a indústria brasileira não é protecionismo cego, é inteligência econômica e soberania. Quando importamos produtos que poderíamos fabricar internamente com igual ou maior qualidade, exportamos não apenas recursos financeiros, mas também conhecimento, inovação e oportunidades.
O tarifaço americano é um lembrete de que, no comércio internacional, cada nação joga para ganhar. Se o Brasil continuar a assistir passivamente à erosão de sua base produtiva, sem adotar políticas consistentes de valorização da indústria nacional, perderemos competitividade, empregos e relevância econômica. O momento exige abandonar a visão ingênua de “mercado aberto a qualquer custo” e adotar a mesma assertividade que outras potências já demonstram há décadas.