Em julgamento que durou oito horas, réu chegou a dizer que teria ‘esfaqueado vítima 300 vezes, se ela não tivesse pulado da janela’
Sentença lida destacou o abalo da comunidade votuporanguense com a violência contra a mulher
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
Em um julgamento de oito horas de duração e marcado por momentos de tensão, João Henrique Rodrigues Cassiano, o indivíduo conhecido por “Buiú”, foi condenado ontem pela Justiça de Votuporanga a 20 anos de prisão pelo assassinato com 14 golpes de canivete da jovem Aline Barbosa. O crime aconteceu em fevereiro de 2014 e o réu cumprirá pena de homicídio triplamente qualificado em regime inicial fechado.
A defesa, representada pelos advogados Fábio Luis Binati e Rafael Masquio Puglia, informou que irá recorrer da sentença. “Acredito que a pena foi superior ao que esperávamos”, informou Binati.
Já a acusação ficou por conta da promotora Renata França Cevidanes, que se mostrou satisfeita com o resultado. “Foi afastada a tese de um homicídio passional. É um avanço com relação aos crimes de violência contra a mulher em âmbito doméstico. Não podemos aceitar as alegações de que a vítima é culpada de seu assassinato quando vive em situação de ameaça e violência”, comentou a promotora.
Já as familiares de Aline saíram do tribunal com sentimento de que a Justiça foi feita. “O que a gente queria mesmo era ter a nossa irmã com vida, mas acredito que a Justiça foi feita. Espero que ele cumpra a pena dele e fique um bom tempo preso. De certo modo, dá um pouco de tranquilidade para a família”, disse a irmã Andreia de Oliveira.
O anúncio da pena de Buiú foi lido por volta das 17h30 no tribunal do Júri pelo juiz Jorge Canil. Segundo ele, a maioria dos jurados do Conselho de Sentença, formado por cinco homens e duas mulheres, reconheceu a materialidade, a letalidade e a autoria do crime.
A partir da decisão dos jurados, coube ao juiz calcular a pena. “Tendo em conta os depoimentos ouvidos em plenários, entre eles o da própria mãe de João Henrique, mencionando episódios numerosos de violência doméstica e uso de entorpecentes, as circunstâncias não são favoráveis ao agente (...). O crime foi premeditado, diante ardil, uma emboscada com o pretexto de que queria entregar um brinquedo para a filha da vítima, atraiu-a para o apartamento sem que ela pudesse prever o desfecho trágico. O caso provocou um verdadeiro abalo em nossa comunidade, ainda não acostumada com esse tipo de comportamento agressivo, sobretudo contra as mulheres”, disse Jorge Canil.