‘Eu vi a morte’, diz Paulo Sérgio, o popular ‘Juruna’, sobre horas de terror ao achar que não seria resgatado de veículo em ribanceira
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
O votuporanguense Paulo Sérgio Candido Assunção, o popularmente conhecido “Juruna”, de 45 anos de idade, jamais vai esquecer das 10 horas de sofrimento, desespero e solidão vividas por ele entre os dias 13 e 14 de março de 2016. Após capotar o carro em uma ribanceira no bairro Villar III, um dos mais afastados da cidade, a vítima ficou presa no interior do veículo sem saber se deixaria o local com vida.
Pesando 178kg, Juruna é figura muito conhecida em Votuporanga e foi, inclusive, personagem de uma reportagem publicada no A Cidade em 2012, sobre a fila de 1.200 pessoas que aguardavam cirurgia bariátrica na região. Hoje, ainda sem passar pelo procedimento cirúrgico, assa espetinhos em um bar muito popular da cidade e, naquele fatídico dia, um domingo à noite, viu a morte, seguida por uma segunda chance. Ou como ele prefere chamar, um renascimento em sua história.
O acidente
Segundo ele, durante a noite, por volta das 22h, transitava pela região do Villar III quando, de maneira súbita, sofreu um mal estar ao volante do carro, um Ford Delrey. “Deu um branco”, relatou. Ao passar por uma descida, o veículo teria ficado sem freio, inclusive o manual. Ao chegar ao final da via que transitava, no cruzamento com a rua Arquimedes Brunini, tentou fazer a curva em alta velocidade, mas não conseguiu. O carro bateu as rodas na sarjeta, capotou e rodou de quatro a cinco vezes no ar, ficando imobilizado abaixo de uma ribanceira, a cerca de três metros de altura do nível da rua, tombado sobre a porta do passageiro.
Juruna estava sem o cinto de segurança, o que nesse caso, ele conta, foi positivo. Um bombeiro teria lhe dito que ele teve sorte de escapar de ser enforcado pelo dispositivo de segurança. A vítima foi parar sobre o banco de passageiros e acabou com o rosto prensado contra a porta, sem condições de sair do automóvel. Desesperado, passou a gritar por socorro, mas ninguém respondeu. “Não conseguia mais falar de tanto gritar, achei que ia morrer ali e ninguém ia ver. Era o fim, não tinha nada ali. Apenas silêncio”.
Angústia
As horas foram passando e de tanto berrar, Juruna ficou sem voz e desidratado. Sofreu câimbras. Também não conseguiu encontrar o celular, que seria a salvação para pedir por ajuda. Durante a madrugada, teve medo de o carro pegar fogo, já que havia completado o tanque com etanol no dia anterior.
Após algumas horas, o farol do automóvel, que permaneceu aceso após o capotamento, apagou. Paulo ficou na escuridão, imobilizado no interior do carro. Nesse momento, ele conta, teve muito desespero, mas lhe valeu a fé, principalmente em Nossa Senhora Aparecida, de quem é devoto. Ao relatar esses momentos de solidão, o sobrevivente se emociona. “Rezei muito para Ela”, disse em lágrimas.
Juruna também lembrou da filha, de 14 anos, e buscou forças para sair daquela situação. No meio da madrugada, ouviu cães latindo, clamou por socorro, mas em vão. Em todo os momentos da noite, madrugada e início da manhã, ele permaneceu acordado.
Salvação
Até que, por volta das 8h da segunda-feira (14), quando o sol já raiava forte, ouviu o barulho do motor de um trator. Ele diz que conseguiu soltar um grito fraco, com o que lhe restava de voz. Também bateu no painel do carro. O barulho e a imagem do carro capotado teria chamado a atenção da pessoa que estava no trator que, segundo Juruna, se chama Marcelo, que foi até o carro e ajudou a por fim ao martírio. “Quando me acharam, só pedia água, mas o Marcelo não tinha”. Imediatamente, o homem acionou o Corpo de Bombeiros, que teve que serrar o teto do carro, para só então retirar, com esforço de vários homens, a vítima do local. “Foi um alívio”.
Paulo Sérgio foi encaminhado ao UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com desidratação e escoriações. Passou por um período de observação e recebeu alta. “Eu agradeço demais quem acabou me ajudando, me tirando daquele local. As pessoas que me atenderam, os bombeiros, os enfermeiros”.
Ajuda
Juruna também agradeceu o pessoal do estabelecimento comercial “Barbarrala”, que o ajuda, deixando que asse espetinhos por lá aos finais de semana, os vereadores Serginho da Farmácia, que o auxiliou a ir a Rio Preto passar por exames de tomografia, e Vilmar da Farmácia, que colaborou com medicamentos.
Hoje está bem de saúde, mas conta que perdeu no acidente seu único meio de locomoção, o carro. Ele diz que os amigos estão organizando uma rifa, para que possa comprar outro veículo, não importando a marca ou o ano. Ele aproveitou a entrevista e clamou por auxílio à comunidade votuporanguense, para que o ajude, de qualquer maneira, a adquirir novamente um meio de transporte para que possa trabalhar. Devido ao peso, ele não consegue caminhar além de curtas distâncias. “Eu não aguento andar, e ficar em casa dá depressão”, disse Juruna.
Veja o depoimento:
A história de um sobrevivente - 10 horas de sofrimento, desespero e solidão - O votuporanguense Paulo Sérgio Candido Assunção, o popular “Juruna”, de 45 anos de idade, jamais vai esquecer a experiência vivida por ele após capotar o carro em uma ribanceira no bairro Villar III, um dos mais afastados da cidade no mês passado. A vítima ficou presa no interior do veículo sem saber se deixaria o local com vida. Confira o relato dele. A reportagem completa você lê acessando: http://www.acidadevotuporanga.com.br/policia/2016/04/vitima-relata-desespero-apos-10h-em-carro-capotado-n29370
Publicado por Jornal A Cidade em Terça, 5 de abril de 2016