Elder de Souza, o “Tuca”, era o último réu por ter agredido até quase a morte o jovem em saída de casa de shows, em 2010
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
O Fórum de Votuporanga realizou ontem o desfecho de um dos casos mais emblemáticos dos últimos anos e que deixou marcas profundas na sociedade votuporanguense. Foram mais de cinco anos de debates e de espera, desde o brutal espancamento do jovem Tonny Pires Custódio, na saída de uma boate, até o julgamento do último acusado, Elder de Souza, o Tuca, que acabou condenado a 16 anos de prisão.
O júri popular contou com público de mais de 100 pessoas, entre estudantes de Direito e familiares dos envolvidos, que lotou o tribunal do júri. Elder era acusado de tentativa de homicídio triplamente qualificada por, junto de um grupo de amigos, ter espancado covardemente Tonny com chutes e socos. Devido aos ferimentos, o jovem ficou vários dias entre a vida e a morte e convive até hoje com as sequelas.
Os trabalhos foram comandados pelo juiz de Direito Jorge Canil, que iniciou com o sorteio do conselho de sentença, que contou com sete jurados, sendo três homens e quatro mulheres. A acusação (Ministério Público) foi representada pelo promotor de justiça José Vieira da Costa Neto. Já a defesa, teve como porta-voz o advogado André de Paula Viana.
Tonny
A princípio, foram tomados depoimentos de pessoas envolvidas nos acontecimentos. O primeiro a falar foi a vítima, Tonny, que comoveu os presentes com sua simplicidade, o relato de sobrevivência e o perdão por aquelas pessoas que quase lhe tiraram a vida.
Hoje com 29 anos, Tonny disse que devido às lesões sofridas na cabeça, causadas principalmente pelos chutes que recebeu e provocaram traumatismo craniano, não se recordava do que aconteceu no dia do espancamento, na saída da casa de shows. Relatou que convive com sequelas, como problemas de visão e sofre de espasmos do lado esquerdo do corpo.
Ele contou também que a fé em Deus e apoio da comunidade cristã o ajudaram a se recuperar, e que hoje está prestes a ingressar em um lar franciscano na cidade de Jaci, e também que vai se preparar para se tornar padre.
A todo tempo que Tonny falava ao juiz, o réu, Elder, ficou com olhar fixo para o chão. Até que a vítima foi questionada pelo advogado sobre o que entendia sobre a palavra “perdão”. Tonny surpreendeu. Olhando para Elder disse “eu te perdoo”. E concluiu. “O mal não foi feito para mim, eu estava olhando para a vida pelo lado material, diferente do que sou hoje. Por outro lado levou quem agrediu ao lugar onde estão. O meu perdão não é uma aceitação ao erro dele (de Elder). O erro humano sempre tem dois lados. Temos que pensar no querer dele e onde ele estava vivendo, que o levaram a fazer aquilo. Da minha parte eu perdoo, mas não livro ele da justiça dos homens, que é vocês (os jurados) que vão fazer “, disse Tonny.
Sentença
Nos debates, o promotor pediu aos jurados a condenação por tentativa de homicídio triplamente qualificada. Já a defesa tentou desqualificar a acusação, para que o réu recebesse pena pelo crime de lesão corporal. Em seguida, o conselho de sentença se reuniu na sala secreta, e reconheceu a materialidade, a autoria e a intenção de matar, afastando as possíveis absolvição e desqualificação.
Diante disso, ficou a cargo do Juiz Jorge Canil definir a sentença. Elder recebeu pena de 25 anos, mas foi considerada diminuição de 1/3. “Aplico-lhe a pena final de 16 anos de reclusão, a cumprir em regime inicial fechado, sem o direito de apelar em liberdade”. Ainda ficou definido pagamento de indenização à vítima em 50 salários mínimos. Cabe recurso a ambas as partes.
Em um trecho da sentença, o juiz Jorge Canil lembrou-se da importância do caso para o município, e que passa a ser um marco na história da Comarca. “Pela terceira vez o conselho de sentença, porta-voz do pensamento da comunidade, rechaçou o comportamento do réu e dos seus companheiros agressores. O recado é muito claro. Votuporanga não admite esse tipo de conduta, embora banalizado em centros maiores”, escreveu o juiz na carta de sentença.
Ao final do julgamento, Tonny, abraçado com a mãe, disse ao A Cidade que o dia de ontem representava o fim de um ciclo, sofrido, que se encerrava, para outro iniciar. O jovem símbolo de sobrevivência vai ser dedicar exclusivamente à vida religiosa.