Há algum tempo, quando acompanhava meu pai em consulta médica, tivemos a oportunidade de dialogar sobre a atenção que devemos dedicar aos mais velhos. Meu pai, com idade avançada (80 anos) precisava de atenção para superar as naturais, infelizmente, limitações provocadas pelo avanço da idade e o afastamento, gradual e contínuo, das atividades as mais diversas.
O médico, na ocasião, me perguntou o que eu fazia quando ele realizava as compras na feira ou no mercado. Mais especificamente o que fazíamos com as sacolas. E de imediato disse: “você deve dar ele uma sacola para carregar, não deixe que apenas caminhe e amplie as limitações”.
De fato, entendemos o envelhecimento com a supressão gradativa das funções, atribuições, ações e prazeres humanos. Acreditamos que estamos ajudando quando suprimimos afazeres, os mais comuns, como ir ao mercado, carregar compras, caminhar, preparar a própria refeição e outras tarefas do dia a dia.
Entendemos, de forma equivocada, que a pessoa deve, com o avanço da idade restringir suas atividades. Este é o princípio da antecipação das doenças e do encurtamento da vida em sociedade.
Naquela data tive a oportunidade de dizer ao médico que eu daria duas sacolas para meu pai carregar, não exagerando no peso, mas sim, distribuindo a carga entre os dois membros. O doutor afirmou que não havia pensado sobre minha atitude e que passaria a orientar seus pacientes e familiares desta forma.
Há muitos dados e orientações que indicam os exercícios para toda a vida, mas não nos atentamos às atividades mais simples e possíveis a qualquer pessoa ao longo da vida. Minha mãe, faleceu aos 96 anos, cuidando de tudo de seu lar e de si mesma. Tinha uma cachorrinha que ela levava para passear duas ou três vezes ao dia, fazia suas próprias refeições, indo à feira todas as quartas-feiras (para isso compramos um carrinho), cuidava da limpeza da casa e de suas vestes. Apenas, nos três últimos meses foi morar em minha casa. Cabe lembrar que a aposentadoria estava inteiramente sob o controle dela para o que desejasse realizar. Parte para pagar o aluguel e o restante para seus desejos e fez economias.
Apenas e tão somente no último mês de vida, 15 deles no hospital, necessitou permanecer dependente de outra pessoa. Ouso dizer que atingiu os 96 anos por estar vivendo a vida e não abandonando as atividades naturais de nós humanos.
Cuidar não significa reduzir a presença na vida e na sociedade. Cuidar é favorecer o pleno desenvolvimento do outro, em todos os momentos da vida. Suprimir ações é sinônimo de encurtar a vida.