Diariamente temos lido e escutado permanentemente sobre a nova “classe C” no Brasil. Uma faixa de pessoas que tem renda familiar girando em torno entre R$ 1.000,00 e R$ 4.000,00. Calcula-se que quase 100 milhões de brasileiros compõem esta classe econômica. O surgimento e consolidação deste montante de pessoas nesta classe têm criado um alvoroço na sociedade. Estudos e opiniões vêem com muito entusiasmo este contingente de pessoas, que se tornaram consumidores potenciais. O mercado econômico volta a sua atenção para estes brasileiros, não sem motivos, já que, pelo grande número de pessoas, possibilita um montante enorme de dinheiro no mercado.
Sem sombra de dúvidas, esta nova prosperidade financeira para os brasileiros é importantíssima. Mas é claro que o mercado aproveita isso para imputar novos objetos de desejos. Em suma, esta nova classe C gira em torno exclusivamente do seu aspecto econômico.
Não há nada de errado em buscar a satisfação de desejos pessoais ou criados pelo mercado. Faz parte do capitalismo. Entretanto, o grande desafio no país nos próximos anos será possibilitar a entrada destas pessoas em outros níveis de educação e cultura. Esta classe, também chamada de “nova classe média”, para se consolidar como tal, precisa ter consciência de que o avanço de renda pode estar associado a uma melhoria na própria formação.
O que temos visto atualmente é uma negligência sobre este aspecto. Talvez seja cedo alertar para este ponto, já que, até bem pouco tempo atrás, a maior parte das pessoas desta nova classe tinha dificuldade em resolver as necessidades mais básicas; todavia, se a questão permanecer intocável, a possibilidade de satisfazer os desejos consumistas, camuflará este outro nível de satisfação.
De certa forma, isto tem ocorrido, na medida em que o governo federal tem uma enorme preocupação em inserir esta grande parcela da sociedade no ensino superior, mesmo que não signifique uma boa formação. A lógica governamental é colocar o maior número de indivíduos no ensino superior, manipulando os números em seu favor. Mas a falta de embasamento na formação básica e fundamental dificulta a conclusão do curso ou a inserção dos concluintes no mercado de trabalho. Um diploma de ensino superior não tem significado necessariamente senso crítico ou transposição para outra “classe” de formação.
Acesso à cultura também é outro grande problema para esta nova classe. É muito difícil demandar tempo para algo que não se tinha oportunidade e costume de se voltar; como também é complicado disponibilizar recursos quando se coloca sempre outras prioridades materiais em seu detrimento. Mais uma vez, o próprio governo contribui para esta situação, ao não incentivar e mostrar para esta nova classe que a mudança econômica pode estar atrelada a uma mudança cultural (e isto ocorre com boa formação). Livraria, cinema e teatro, por exemplo, continuam sendo lugares distantes da maioria desta parcela dos brasileiros.
Além disso, os brasileiros devem utilizar esta nova situação para buscarem e exigirem melhores condições para saúde, infraestrutura, saneamento básico, etc. Enquanto governo e sociedade reduzirem o ser humano a uma determinada classe econômica, uma imensa parcela de pessoas permanecerá excluída de uma boa formação, e estes mesmos indivíduos continuarão julgando que uma boa vida é onerar toda uma família em prol de uma TV de plasma.
*Émilien Vilas Boas Reis é graduado em Filosofia