Em algum momento da vida, todos nós já dissemos ou pensamos: “Estou me sentindo só.” Essa sensação, que pode parecer simples à primeira vista, revela algo muito mais profundo sobre a natureza humana: a nossa necessidade de conexão. Sentir-se só nem sempre é algo negativo. Existe uma forma de solidão voluntária, conhecida como solitude, que pode ser extremamente benéfica. Ela nos permite refletir, descansar do excesso de estímulos, reconectar com nossos pensamentos e emoções e, muitas vezes, redescobrir quem somos. Porém, a solitude tem seu tempo. Ela é saudável quando passageira. Após um período de introspecção, surge uma necessidade essencial ao ser humano que é a convivência. Como somos seres sociais por natureza, precisamos da troca, do olhar, da escuta e do toque do outro. Conversar, rir, partilhar preocupações e vitórias nos nutre emocionalmente, fortalece a nossa identidade e nos faz sentir parte de algo maior. Quando a solitude se prolonga, ela pode deixar de ser um espaço de paz e se transformar em isolamento emocional, terreno fértil para sentimentos como tristeza, ansiedade e depressão. Acabei de ler o livro de Leandro Karnal, O Dilema do Porco-Espinho: Como Encarar a Solidão, inspirado em Schopenhauer, aborda a tensão entre o desejo de proximidade e o medo de se ferir emocionalmente. A metáfora conta que, no frio, porcos-espinhos se aproximam em busca de calor, mas ao se tocarem, acabam se ferindo com seus espinhos. O desconforto os afasta novamente. Assim também somos nós: buscamos conexão, mas muitas vezes tememos a dor da intimidade. A solidão, portanto, é um desafio constante entre o frio do isolamento e os espinhos do convívio. As redes sociais parecem oferecer companhia, mas muitas vezes alimentam uma solidão disfarçada. Podemos “deletar” um contato com um clique, mas isso não resolve o dilema do porco-espinho. O contato humano real é desafiador, pois, implica escutar o outro, lidar com diferenças, aceitar limites e criar espaço para o afeto verdadeiro. A convivência, quando autêntica, exige presença e tolerância. Reuniões familiares não são fáceis e as relações felizes o tempo todo são uma ilusão. Ao lidar com a diferença, percebemos quem realmente somos e o que valorizamos. A solidão é um sentimento universal e, em alguns contextos, uma questão de saúde pública. O Reino Unido, por exemplo, criou uma “Secretaria da Solidão”. Esse é um reconhecimento de que a falta de conexão pode ser tão prejudicial quanto doenças físicas. Vivemos em uma época em que se multiplica o uso de medicamentos para infelicidade, insônia e ansiedade. Isso nos leva a refletir se estamos mesmo tão felizes assim. A solidão pode evidenciar o que nos incomoda. Há quem não suporte estar sozinho e use o outro como muleta emocional. Outros, mesmo em meio a muitos, sentem-se profundamente sós. Enfim, a solidão nos desafia a olhar para dentro e para fora. É preciso coragem para conviver, escutar e permitir-se ser afetado. Entre o frio da distância e os espinhos da proximidade, seguimos tentando encontrar um ponto de equilíbrio. “Estar só por um momento pode ser um alívio. Estar só por muito tempo, um fardo.”