Chegando num bar, você nota que o manobrista do estacionamento está bêbado. Você entregaria as chaves do seu carro para ele? Este foi o mote de uma campanha institucional de alguns bares paulistanos, que gravou com uma câmera escondida a reação dos clientes. Todos, sem exceção, não entregaram as chaves ao manobrista beberrão e reclamaram. No fim surge o slogan: “Nunca deixe um motorista alcoolizado dirigir seu carro, mesmo que este motorista seja você”.
Mortes envolvendo jovens, imprudência, alta velocidade, vias precárias, falta de sinalização e consumo excessivo de álcool são uma triste realidade que têm estampado as manchetes, mobilizado manifestações e deflagrando campanhas de conscientização.
Quantos de nós não perderam entes queridos de maneira trágica e prematura no trânsito?
Guerra nas ruas
As maiores vítimas do trânsito são os pedestres. Em 2010, quase metade das mortes no trânsito ocorridas na cidade de São Paulo foram por atropelamento (46%). Outro número crescente é dos motociclistas que, atualmente respondem por 35% das vítimas fatais. Enquanto as mortes de motoristas ou passageiros de carros correspondem a 15% do total (200 casos na capital paulista - 2010).
Fatalidades que vem caindo, ano a ano, graças à lei do cinto de segurança obrigatório, dos avanços na chamada “célula de sobrevivência” dos veículos e, mais recentemente, a fiscalização da Lei Seca.
A culpa é só do motorista?
Como deputado, na Comissão de Viação e Transportes, propus a realização de audiência pública para debater o crescente aumento de vítimas por acidente de trânsito nas rodovias federais, os investimentos na conservação das rodovias, nos meios de fiscalização e pessoal, além da qualidade na formação dos condutores.
O Governo Federal se exime desta responsabilidade. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte – DNIT, afirma que o maior causador dos acidentes nas rodovias é o motorista, mas o próprio órgão dispõe de informações minuciosas de onde se concentram os acidentes e quais os seus motivos. Ao contrário do que afirmam, não é só a imprudência o maior fator e sim a combinação com a falta de logística e de uma boa engenharia de trânsito, a deterioração das estradas e a precariedade de sinalização e conservação.
Santa Catarina é o Estado com maior proporção de mortes nas estradas. São seis mortes por quilometro, seguido por Paraná com oito, e Minas Gerais e Bahia, sendo a maioria deles nos mesmos trechos ou próximos como demonstra a “Estatística de Acidentes” da Polícia Rodoviária Federal.
Diante disso, será que o único responsável pelas mortes nas nossas estradas é o motorista? O Poder Público precisa responder a esse e outros questionamentos sobre o tema e dar uma solução urgente ao aumente de vítimas fatais em nossas rodovias.
Alcoolismo vs Adolescência
Numa outra frente, o governador Geraldo Alckmin acaba de lançar um programa exclusivo para combater o consumo de álcool na infância e adolescência. O Cratod (Centro de Referência em Tratamento de Álcool, Tabaco e Outras Drogas) detectou que 80% dos pacientes alcoólatras deram o primeiro gole antes dos 18 anos, parte deles muito jovens, com 11 ou 12 anos. Uma pesquisa do Instituto Ibope apontou que 18% dos adolescentes entre 12 e 17 anos bebem regularmente e que quatro entre dez menores compram livremente bebidas alcoólicas no comércio. Segundo a pesquisa, o consumo de álcool acontece, em média, aos 13 anos. No Programa existem medidas punitivas, fiscalizadoras e educativas que merecem destaque. (saiba mais)
A culpa é de quem?
Vivemos um paradoxo, pois dispomos de legislações de trânsito das mais modernas do mundo que é simplesmente a ignorada nas ações cotidianas, seja por falta de fiscalização dos órgãos competentes, da manutenção precária das vias públicas ou da ausência de premissas de cidadania no trânsito por parte da população.
Segundo o filósofo Thomas Hobbes o carro se tornou uma espécie de arma e de armadura, com as quais as pessoas saem às ruas para fazer a sua “guerra de todos contra todos”.
Seja mais solidário, dê passagem, respeite ciclistas e motociclistas, não entre em discussões banais por vagas de estacionamento. Nesta “guerra cotidiana”, todos nós, temos uma parcela de responsabilidade em desarmar os ânimos e ajudar a promover a PAZ no trânsito.
Deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) – membro da Comissão de Viação e Transportes da Câmara Federal