Professor MSc. Manuel Ruiz Filho
Uma senhora aparentando pouco mais de sete décadas quando questionada sobre até quando pretendia trabalhar, não pensou duas vezes: Até 100 anos de idade. E depois? Perguntou o interesseiro. Uai, depois vou aproveitar a vida, respondeu. Pessoas como essa precisam viver uma eternidade para nos dar exemplos. Essa jovialidade é ferramenta da genialidade. Aproveitar a vida construindo o mundo é coisa de gente lúcida, de gente que sabe por que aqui veio. É de se festejar quando pessoas aparentam ter menos idade do que realmente possuem e que mantenham vivos e à flor da pele dois balsâmicos da juventude: o humor e a vitalidade. As estatísticas já demonstram que o envelhecimento precoce já não está mais tão precoce, espreguiçou-se e avançou no tempo. Hoje vivemos muito mais do que antigamente, nem por isso é justo motivo para que paremos de trabalhar tão cedo. O trabalho é mola que impulsiona a vida e que nos sustenta tão fortes como nunca. Quando ouço falar em terceira idade chego a desdenhar dela. Pouco acredito nisso. Se de fato ela existe deverá acontecer pelo menos de 20 a 30 anos depois da idade que sempre vou ter. Terceira idade não vai me amedrontar. Do contrário, quanto mais tempo vivo mais me sinto renovado, feliz, a sabedoria e a paciência aumentam e isso me torna muito mais jovem. Todos sabem que juventude é ‘estado de espírito’ e energia a serviço da existência. Jamais permitirei que o meu eu de dentro entre em atrito com o meu eu de fora. Torço para que esses “eus” continuem siameses por muitos anos. As rugas são inevitáveis, mas o trabalho tem a tarefa de destruí-las mesclando a espiritualidade com a leveza do corpo. Se tiver rugas não as percebo. Se outros percebem são seus medos e suas angústias inquietadoras lhes fazem de escravos. Sofrem com isso, mas eu não. Velhice não é isso. Velhice é doença da alma, desgaste da imaginação. Conheço jovens saindo de faculdades carregando velhice nos ombros. Também não se pode negar que a partir de muito tempo vivido há uma desaceleração gradativa em todo o corpo humano. Já não se sobe escada com a mesma rapidez de antes; a memória, por vezes, reclama graxa lubrificante; a rapidez dos movimentos perde um pouco a velocidade; o fôlego reclama pausa mais frequentemente; as lágrimas teimam rolar pela face com extrema facilidade, mas o cérebro se torna compensador de todo comprometimento. A verdadeira velhice é um estado espiritual muito cruel e só se torna velha a pessoa que aceita derrotas. Vinco em torno dos olhos são desenhos que a natureza risca, são marcas registradas de quem tem a graça de saborear a vida em sua plenitude. Somos muito mais que meros produtos dentro de embalagens sofisticadas e coloridas. Somos seres humanos predestinados e capazes de construir cada vez mais um mundo melhor e muito além das expectativas. Precisamos ouvir mais e falar menos. Agir mais. Fugir da ociosidade em qualquer estágio que ela se apresente. Nascemos com vocação de riqueza, não no sentido de ter ou poder, mas no sentido de fazer perpetuar a igualdade. Nada deve acomodar-se em cada pessoa por mais que sua idade avance no tempo. A existência por mais prolongada que seja não pode te aquietar por dentro da mesma forma que te desgasta por fora. O espírito rejuvenesce em velocidade extremamente maior que a decadência do corpo. É sábio lutar para não envelhecer, mas é lastimável não lutar contra o emburrecer, este deixa marcas que o tempo não apaga.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho