Compreender daqui o que acontece na terra dos samurais é difícil, mesmo porque o domínio da língua é totalmente impossível, mas a linguagem de sentimentos das pessoas é de fácil compreensão. No aspecto do sentimento a língua pouco influi porque dá para perceber facilmente quando uma pessoa está triste ou carrega dentro de si uma carga insuportável de amarguras. Nem sempre advinhamos os motivos, mas o dos japoneses neste momento são claros. Eu não estou dizendo que encontrei um japonês triste, encontrei uma nação inteira triste, encontrei triste a população do mundo todo. Os japoneses de forma geral são pessoas fechadas e raras vezes deixam transparecer aquilo que sentem ou o que falam suas emoções. Nós brasileiros somos sensitivos e capazes de entender esse sofrimento que os atormenta neste momento tão difícil que passam, pela revolta que a natureza manifestou por suas causas naturais. Os japoneses são pessoas progressistas, um povo vencedor, disciplinado e organizado, fizeram de um minúsculo pedaço de chão uma potência mundial em quase todos os sentidos. Diante de tamanha catástrofe poucas pessoas se vê aos gritos, não se vê ninguém saqueando supermercados e muito menos furando filas em busca de meio litro de água potável. Mantém o respeito e a ordem pelos compatriotas. A isso chamamos civilização. Na Segunda Grande Guerra Mundial, especialmente no final de 1944 e meados de 1945 o mundo inteiro assistia, intrigado e estupefato, a bravura dos soldados japoneses para quem era preferível a morte à rendição. Não se conseguia entender de onde vinha o aguerrido espírito de combate que fazia com que jovens de 16 anos de idade se alistassem nas Forças Armadas a fim de pilotar aviões ou torpedos suicidas. É um povo corajoso e destemido, jamais se curvou diante de imprevisões que a vida lhes tem imposto, entretanto, lhes é míster curvar-se humildemente ao encontrar alguém numa forma de cumprimento respeitoso. Essa inclinação da cabeça e esse respeito pelos outros são ensinados e aprendidos em bancos escolares. Adoram, quando chamados, ouvirem o sufixo ‘San’ após a pronúncia de seus nomes sentindo-se gratos pelo tratamento de cordialidade recebido. Às crianças, quando reverenciadas costuma-se pronunciar seus prenomes seguidos do sufixo ‘Tyan’ para as meninas e para os meninos o sufixo ‘Kun’. Para a prática de boas maneiras em uma festa provida de comes e bebes, em que você tem a honra de dividir o momento com eles, aguarde antes de levar o copo para seus lábios. É costume entre eles esperar que todos sejam servidos, para depois, alguém assumir a liderança dizendo palavras relativas ao motivo da festa. Normalmente no final do pronunciamento o japonês deverá gritar ‘kampai’ que significa brinde. O povo japonês é extremamente cuidadoso quando se trata de prevenir doenças, usam máscaras a fim de prevenir transmissões de germes às outras pessoas. São razoáveis quando afirmam que as máscaras não protegem tanto o usuário como as pessoas que com ele convive. Um simples resfriado é motivo para fazerem uso desse apetrecho tão importante para a saúde. É muito sensato esse povo no aspecto da profilaxia.
A repetição ascendente do número e da intensidade dos teremotos nas últimas décadas deveria servir para sacudir também o íntimo dos seres humanos, transformando-os em seres mais dóceis, mais fraternos e mais compreensivos. Proponho-me neste instante fazer das palavras do Papa Bento XVI minhas próprias palavras “Queridos irmãos e irmãs, as imagens do trágico terremoto e do consequente tsunami no Japão nos deixaram todos fortemente impressionados. Desejo renovar minha proximidade espiritual às queridas populações desse país, que com dignidade e coragem enfrentam as consequências de tais calamidades. Rezo pelas vítimas e seus familiares, e por todos aqueles que sofrem por causa desses terríveis eventos. Encorajo todos aqueles que com prontidão estão trabalhando para levar ajuda.”
A toda nação japonesa, inclusive seus descendentes brasileiros que escolheram nossa Pátria para viverem e lutarem aqui dignamente, o meu respeito, a minha solidariedade e a minha gratidão por serem modelos de perseverança e honestidade, ingredientes indispensáveis para se construir uma nação cheia de graça.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - Votuporanga - manuel-ruiz@uol.com.br
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