Pela vida toda a gente degusta conflitos, cheira conflitos, convive conflitos, mas aprende a lidar com eles. Será normal a intolerância conviver com as pessoas o tempo todo... ou será que ainda não aprendemos a conviver com a virtude paciência? Os pais não têm recebido dos filhos aquele comportamento decente que tanto têm esperado. Ou será que os pais continuam ‘quadrados’ na forma de educar e de dar aos filhos aquilo que eles esperam ter? Os pais esperam dos filhos a gratidão eterna porque foram utilizados por Deus na construção de suas existências. Lendo um texto nesta semana fiquei a pensar que experiência fantástica podemos tirar dele. Um jovem, quando questinado pelo pai sobre seu comportamento, impetuosamente se dirigiu a ele dizendo: ‘Não te metas na minha vida’. O pai, cabisbaixo pelo que ouviu, mas firme na sua condição de responsável pelos destinos da família, lhe respondeu: Filho, um momento, não sou eu que me meto na tua vida, foste tu que te meteste na minha! Faz muitos anos, continuou o pai, graças a Deus pelo amor que eu e sua mãe sentimos, chegaste às nossas vidas. Ocupaste todo nosso tempo e mesmo antes de nasceres já provocavas mal-estar em sua mãe. Ela nem conseguia comer. O que comia devolvia logo em seguida por repulsa natural do organismo materno enquanto preparava o corpo a serviço de um novo ser vivo que era você. O repouso era a solução para centenas de adaptações do organismo dela. Eu tive que me dividir entre as tarefas do meu trabalho e as da casa para poder conviver com essa situação. Nos últimos meses, antes mesmo de você vir ao mundo, sua mãe não dormia e nem me deixava dormir também, dado seu estado de cuidado e de precaução. Os gastos aumentaram sensivelmente e os maiores eram destinados ao médico para que sua mãe tivesse uma gravidez saudável. Invólucros de remédio, exames e receitas médicas eram espalhadas por toda a mesa onde anteriormente postavam-se frutas, doces e licores. Já não nos era possível lembrar em que data compramos nossos últimos calçados porque toda compra de roupa era especial e infantil, esperando vestir-te como nunca o fomos. Chegou o grande dia. O dia que você nasceu. Compramos recordações para as amigas de sua mãe que vinham visitá-la. Saíam felizes. Tivemos que fazer uma adaptação no quarto onde tu dormirias porque a cada três horas um choro como alarme de relógio nos despertava para te darmos de comer. Outras vezes seu choro era de dores e sem muita experiência chorávamos também por não saber que cólicas intestinais nos bebês eram coisas relativamente normais. Começastes a andar. Sinceramente gostaria de ter medido a quilometragem dos meus passos atrás dos seus. Já não podia sertar-me a ler um jornal ou assistir algo na TV, coisa corriqueira na vida das pessoas. Ficava atento o tempo todo e preocupado atrás de ti para evitar que batesse a cabeça em cantos de mesa, coisas nevitáveis às vezes na sua idade. Recordo-me do seu primeiro dia de aula quando tive que telefonar para meu serviço e dizer que talvez não fosse ao trabalho naquele dia, já que você, na porta do colégio, não queria desgrudar sua pequena mão da minha mão e entrar. Choravas o tempo todo e pedia para que eu não fosse embora. Tive que entrar contigo em sala de aula e pedir à professora que me deixasse ali até que você pudesse ficar tranquilo e seguro. Crescestes mais um pouco. Passamos a ser uma inconveniência para ti, mas nos obrigava a levá-lo nas festinhas na casa dos amiguinhos. Lembro-me que me pedias que o deixasse um quarteirão antes do local da festa para que não pagasse mico pelo carro que te levava ou mesmo pelo simples homem que sempre foi o seu pai. Você se considerava da ‘onda’, da socicedade sofisticada, não seria seu pai que iria estragar esse seu lado moderno e desconhecido. Não aceitavas que puséssemos regras de convívio e nem suportavas que fizéssemos comentários sobre teus amigos. Revoltava-se contra seu pai e sua mãe com unhas e dentes. Já quase não queres falar comigo, dizes que só sei reclamar e tudo que faço não lhe parece normal. Sua mãe não me deixa dormir perguntando sobre você que ainda não chegou e que já é madrugada. O seu celular permanece desligado e quando ligado tu não atendes ao fazer a leitura no mostrador do número de casa. Já quase não trocamos palavras, aborrece-te falar com pessoas mais velhas que não entendem o mundo de hoje. Só me procuras para pagar suas contas. Mas estou seguro que diante de suas palavras - ‘Não te metas na minha vida’ podemos refletir juntos argumentos sadios e verdadeiros. Filho, eu não me meto na sua vida. Tu te meteste na minha. Eu te asseguro, que desde o primeiro dia até o dia de hoje não me arrependo que tu tenhas metido nela e a tenhas transformado para sempre. Enquanto eu for vivo, vou meter-me na sua vida, assim como tu te meteste na minha, para ajudar-te, para formar-te, para amar-te e para fazer de ti um homem de bem. Só os pais que sabem meter-se na vida dos seus filhos conseguem fazer deles homens ou mulheres que triunfam na vida, capazes de sucesso profissional e familiar. A paternidade, meu filho, não é um capricho ou um acidente. É um dom de Deus que nasce do amor entre dois seres que se amam de verdade e prometem construir juntos uma verdadeira família constituída de pais e filhos que se amam reciprocamente.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - Votuporanga - manuel-ruiz@uol.com.br
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