Orestes Quércia sai da cena política com uma trajetória vitoriosa. Deixa um eleitorado cativo. Agradou e incomodou muita gente, a começar pelo regime militar de 1964.
Trabalhador precoce, radialista na juventude, elegeu-se vereador em Campinas aos 25 anos. Em 1966, ajudou a fundar o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Foi deputado estadual, depois prefeito de Campinas (em 1968), vitória considerada um marco da resistência democrática à ditadura.
Chegou ao Senado em novembro de 1974 com 4.630.182 votos. Eram tempos duros. Quércia amassou muito barro entre a resistência e a construção do partido.
No Senado, propôs a CPI dos Direitos Humanos; o Seguro-Desemprego; a Convocação de Nova Constituinte; e teve atuação destacada nas Diretas-Já.
Em 1986 foi eleito governador de São Paulo com mais de 5,5 milhões de votos. Atuou fortemente nas áreas de habitação, segurança, transporte, educação e saúde. Terminou o mandato com o maior índice de aprovação de um governador no País: 82% segundo pesquisa da “Folha de São Paulo”, de 17/09/1990.
Em janeiro de 2009, recebi Quércia em São José do Rio Preto para minha re-filiação ao PMDB (a primeira filiação fora em 1980, em Santa Fé do Sul).
Quércia esperava reorganizar e fortalecer o partido. Queria um PMDB protagonista, não mero coadjuvante.
Entendi o recado. Notei que o presidente do PMDB paulista trabalhava de olhos postos no futuro.
A doença, no entanto, impediu-o de levar a estratégia à prática. Nosso líder partiu sem indicar herdeiros para seu espólio político.
Ser ou não ser, eis o dilema do PMDB. As feridas da última eleição presidencial ainda estão abertas em vários estados.
Como único deputado federal eleito pelo PMDB de São Paulo, julgo-me no direito de chamar o partido à reflexão e conciliação. O PMDB só será grande de fato, e protagonista, como esperava Quércia, se não desperdiçar energias com divisões internas.
Em nível nacional temos expressiva bancada de deputados federais, e um time respeitável de novos governadores. Em São Paulo, os deputados estaduais eleitos têm compromissos com a governabilidade e o desenvolvimento.
O PMDB irá às urnas, em breve, para renovar sua direção em São Paulo. Estou pronto a auxiliar no que for preciso, em nome da unidade partidária.
Peço que respeitemos a história de nosso líder Orestes Quércia e tenhamos grandeza para compreender este momento estratégico.
São Paulo e o Brasil precisam do PMDB. Não de um grande partido fisiológico, sempre a dizer sim. Mas de um PMDB vigilante, participativo, propositivo.
Entendo que é hora de exercer a autocrítica, de buscar o consenso, pensando desde já num projeto de poder.
Afinal, é para governar que se fundam partidos políticos.
Edinho Araújo foi prefeito de Santa Fé do Sul (1977/82), três vezes deputado estadual, duas vezes deputado federal, duas vezes prefeito de São José do Rio Preto (2001/08), presidente da Codasp (2009/10), eleito este ano deputado federal pelo PMDB-SP.