Será isso um trinômio verdadeiro? Se for verdadeiro é indecente; se for indecente não pode e nem deve ser verdadeiro. Quem nunca ouviu essa frase dita em referência a algum político em nosso país? É possível que até mesmo você tenha dito para ‘justificar’ uma obra pública realizada na sua cidade, em seu estado. Esse político de quem você se lembrou agora deve estar na lista dos ‘fichas sujas’, com certeza. Pena que essa estória de ficha limpa e suja ainda não foi nada levada a sério, nem por quem a criou e muito menos por quem tem o dever de cobrar. Depois que certo cidadão brasileiro conseguiu driblar a todos e retornar ao cargo de deputado federal, massacrando as “injustas” acusações que tem sobre si, tudo neste país é possível, infelizmente. ‘Rouba, mas faz’ é mais um grito de quem desistiu de procurar a integridade e a honestidade como qualidade de homens e mulheres que se propuseram a dirigir uma cidade, um estado ou uma nação. Esse trinômio configura bastante o pronunciamento de pessoas que ficaram saturadas de alimentar esperanças de serem governadas por políticos honestos, que os desonestos puseram para correr. Com toda certeza essa aceitação do rouba, mas faz é uma ilusão do povo pouco esclarecido, misturada àquela ideia de ‘fulano não presta, mas me ajudou’. A expressão esdrúxula do rouba, mas faz tem sido ‘compensada’ com benefícios coletivos, enquanto que a expressão ‘fulano não presta, mas me ajudou’ é ‘compensada’ com o contentamento decorrente do favor recebido. Para muitos não importa o prejuízo causado pelo mau uso do poder, o que mais interessa é se sua parte foi garantida. De uma forma ou de outra, terríveis desdobramentos acabam por advirem dessas atitudes na formação moral e ética das gerações futuras de nossos filhos e de nossos netos. São modelos de comportamentos inadequados e é nossa responsabilidade livrá-los disso. Fico a imaginar o porquê que homens que se propõem a serem honestos sucumbem tão rapidamente! Será porque o sistema corrompido e nojento só aceita em seu meio aqueles que se submetem a tais situações? Pode ser. A propósito, o assunto em pauta do rouba, mas faz, nunca foi privilégio dos políticos contemporâneos. O político Adhemar de Barros, figura encravada na história de São Paulo de 1938 a 1958 teve a petulância e ousadia de usufruir dessa artimanha política. Era ele proprietário da Imobiliária Aricanduva na cidade de São Paulo. Possuía vários terrenões impossíveis de moradia numa área hoje denominada de Morumbi. Uma vez loteado esse local a infra-estrutura de água, esgoto e energia elétrica foi realizada à custa do erário público do Estado, já que era o seu titular. Hoje, um dos mais belos espaços de classe alta da capital. Entendeu como o epíteto não é privilégio de político contemporâneo? Detonar quarteirões e ruas fazendo o que é e o que não é preciso em nome do progresso deixa marcas profundas. Será que um político cheio de cuidados, profundamente ético conseguiria levar a cabo obras exuberantes e necessárias? Não creio que alguém possa garantir isso. Apenas tenho a certeza que a única atividade no mundo que não carregou nada de malícia e muito menos calhordice na minha mente foi quando presenciei minha Avó Aurora cerzindo meias do meu Avô. Tive certeza absoluta que aquilo não tinha nenhum resquício de malandragem ou interesse. Era reciprocidade de comportamento e cumplicidade. Cada vez mais temos acompanhando a evolução da descrença no sistema político brasileiro e em suas representativas figuras. Vivemos numa sociedade onde a lei do mais esperto impera em detrimento de direitos dos mais humildes, mas, nossos reclames perdem sentido quando constatamos no cotidiano pessoas que se apossam do excesso de troco sem constrangimento; pessoas que se desincumbem do lixo no quintal do vizinho; pessoas que não respeitam sinais nenhum de trânsito; pessoas que contratam trabalhadores humildes sem assinatura em sua carteira de trabalho e o pior, pessoas que obrigam seus contratados a assinarem termo de dispensa sem mesmo começar a trabalhar para utilizá-los nas demissões futuras. Adotar uma postura de aceitação diante desses fatos implica na concordância dessas práticas como legítimas e incentiva sua continuidade, sendo tão imoral quanto elas o voto em candidatos simpáticos, bonitos ou que “roubam, mas fazem”.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - Votuporanga - manuel-ruiz@uol.com.br
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