Há algum tempo li um livro de Loyola Brandão denominado “Não verás país nenhum”, e que me impressionou muito, por uma das suas crônicas com o mesmo título. Nela, ele conta o seguinte “causo”: “na sua rua, em São Paulo, no bairro dos Jardins, havia uma árvore vetusta e frondosa, um imponente ipê amarelo. Vivia carregado de flores, que a menor brisa caiam ao chão, formando um tapete de tímidas flores amarelas.”
“De repente, os vizinhos notaram que a árvore definhava dia-a-dia até que, seca e fraca, morria. Descobriram, espantados, que a árvore fora envenenada, por uma vizinha, que se queixava da “sujeira” diária que a árvore causava ao despetalar-se na sua calçada! Cansada de varrer o tapete de flores defronte ao seu portão, decidiu que o melhor a fazer era acabar de vez com o pobre do ipê amarelo.”
Triste isso, não? No entanto, há muitas pessoas assim, infelizmente. Eu mesma conheci algumas. Lembro-me que quando no final da construção da minha casa, contente, contei a alguém que plantaria um ipê amarelo na calçada, ao que essa pessoa replicou, “não, não, árvores com flores fazem muita sujeira, plante uma igual a minha, que não dá flores e faz sombra.” Outra pessoa, quando ganhei uma muda de amoreira preta e corri a plantar no jardim, também me desaconselhou, porque caiam muitas folhas e “sujava” o jardim.
Mas, se o bonito nas árvores são justamente as flores e os frutos? Nem liguei para essas pessoas. Eu tenho um ipê amarelo na calçada e uma amoreira preta no jardim. Elas me fazem feliz só de poder contemplá-las, aspirar ao aroma das suas flores e saborear os delicados e doces frutinhos, de uma e outra. Ao que eles chamam sujeira eu chamo beleza.
Loyola alertava-nos contra pessoas que destroem a natureza, arrancando árvores e plantas e colocando concreto no lugar, destruindo florestas para abastecer serrarias e carvoarias, desalojando a fauna e a flora para construir usinas nucleares. Começa por pequenas coisas, uma árvore aqui, outra lá, quando se vê, não há mais nada, só terra calcinada...
Ao que uns chamam saudosismo, eu chamo tradição. Ao que eles dizem ser apego às coisas do passado, eu chamo bom senso. Refiro-me agora ao desejo (?) do prefeito Sr. Juninho Marão de desalojar uma escola, Manoel Lobo, para instalar a prefeitura. Tempos atrás cometeram a mesma injustiça com outra escola, eu soube.
Não pode, Senhor Prefeito! Uma escola, com seu prédio, têm toda uma história, é a vida da comunidade. É um marco, uma referência. Uma tradição no bairro. Suas paredes guardam um pouco da memória, da vida e da história de cada aluno, cada professor, em suma, de cada pessoa que por lá passou. Não se pode mudá-la de lá para cá, assim, sem justa causa e motivo grave.
Há muito dinheiro agora na Prefeitura, suponho, e muitos terrenos e prédios até vazios (aquele perto do Fórum?). Mas, será mesmo necessário mudar a prefeitura de lugar? Se assim for, que se construa um prédio para alojar ao alcaide e funcionários municipais, em qualquer lugar da cidade, pois há muito espaço. Melhor, construa-se um complexo para alojar todas as secretarias municipais, a prefeitura e o gabinete, a exemplo do que vi em Curitiba, se não me engano.
Assim, se prestará um bom serviço à população que concentrará a resolução de seus problemas e questões dirigindo-se a um mesmo local. Os prédios atualmente ocupados poderão ser vendidos e o dinheiro pagará o financiamento da nova construção, revertendo aos cofres públicos. Há que ter bom senso e pensar grande, sendo moderno e progressista! Não é destruindo que se constrói, não é acabando com o velho e desprezando o passado que se fará coisas novas e memoráveis. Cuidado com o andor, que o santo é de barro, Senhor Prefeito.
Norma Moura é advogada, empresária e estudante (Votuporanga)