Árvores, ruas e casas iluminadas, confraternização, troca de presentes, presépios, mesa farta... O espírito natalino toma conta de corações e mentes, independente da idade, credo ou condição social. Todos imbuídos por sentimentos de compaixão, tolerância, amizade, fraternidade e solidariedade. Por que não podemos fazer com que estes sentimentos nos acompanhem todos os dias do ano?
Vejo com pesar que as relações humanas estão cada vez mais impessoais. A aglomeração nos centros urbanos acaba por consolidar um quadro desolador de impaciência, desrespeito e falta de amor ao próximo. Em meio à selva de pedra e concreto testemunhamos o menino no farol, o mendigo vivendo debaixo de pontes, brigas no trânsito que acabam em morte, famílias inteiras vivendo em locais degradantes, a insegurança de sair ás ruas...
Tudo isso incorporado a paisagem, incapazes de nos despertar qualquer indignação, fazendo com que a sociedade, pouco e pouco, vá perdendo seus valores mais nobres.
Enquanto isso, vivemos conectados, via celular, computador e toda sorte de parafernália digital. Ganhamos em dinamismo, reduzimos as distâncias, produzimos mais em menos tempo, podemos estar informados sobre as mais distantes realidades da “aldeia global”. Como é fascinante o engenho do homem!
Mas onde fica a vivência e a convivência nessa era digital?
Afinal, não nos sobra tempo para estarmos com a família, com os amigos, sermos pacientes e amorosos com nossos companheiros, educar e acompanhar o crescimento dos nossos filhos.
Nem mesmo eu estou preparado para tudo isso, diante da velocidade com que as coisas se sucedem, da profusão de informações que saltam aos olhos, das transformações que influenciam o comportamento, o consumo e as relações profissionais e pessoais.
Acabamos virando reféns da nossa própria criação, um estilo de vida marcado por um crescente processo de individualização, em que o estresse se tornou uma doença crônica dos tempos modernos.
Esta reflexão exige uma tomada de posição, empenho em subverter a ordem vigente para recuperarmos sentimentos como a solidariedade, a compaixão e a fraternidade. Humanizar, criar novas referências, disseminar boas ações que sirvam de contraponto ao vale tudo.
Essa certeza que brota ao acompanhar as iniciativas voluntárias e filantrópicas que com seu trabalho “formiguinha” são capazes de transformar realidades, renovar a esperança e semear um futuro melhor para milhões de brasileiros.
São inúmeras entidades, como os Lares São Vicente de Paulo, as APAEs, os clubes de serviços (Lions, Rotary, etc), organizações vinculadas a movimentos religiosos, atividades apoiadas pelas maçonarias, inúmeras ONGs (Organizações Não Governamentais), que atuando nos setores ambientais, de defesa do consumidor, no apoio as pessoas portadoras de necessidades especiais, ajudam a construir uma nova visão de mundo, mais solidária e participativa.
Vejo nestas ações o embrião de um espírito de cidadania que nos permite avançar e restabelecer a vontade coletiva de transformar sem se submeter ao individualismo como regra comportamental. Essas ações servem para ensejar o ideário daqueles que, como eu, acreditam que é possível construir um novo amanhã.
Trata-se de uma “gota no oceano”, mas que multiplicando-se, poderemos observar o renascimento da fé e da esperança, por meio do trabalho anônimo de entidades, empresas e pessoas. Não falo somente em abrir a carteira em prol de instituições de caridade, mas arregaçar as mangas, doar um pouco do nosso tempo, carinho e atenção às causas sociais.
Atitudes que servem de incentivo como pai, marido e homem público para exercer as práticas cotidianas com ética, trabalho e seriedade. Acredito que nestas ações reside o verdadeiro espírito natalino. Feliz Natal e um ótimo 2011!
Arnaldo Jardim – Engenheiro Civil e deputado federal
arnaldojardim@arnaldojardim.com.br