Você se choca ao ler esse título? E você consegue entendê-lo? Se as respostas forem, respectivamente, sim e sim, meus parabéns! Você pode ser considerada uma pessoa que se comunica bem, e entende as mais diversas formas atualmente faladas. Bem vindo ao mundo contemporâneo. A língua é uma coisa viva, e, dizem os estudiosos, não existe “certo e errado” na linguagem oral, mesmo que ela não atenda aos ditames da norma culta. O que importa é a boa comunicação.
Não sou uma purista da língua, nem sempre falo ou escrevo obedecendo estritamente aos rigores da norma culta, uso gíria às vezes, e tomo certas liberdades com a linguagem oral, como toda gente. Ademais, minha família é de origem humilde, descendente de italianos e com baixa escolaridade, o que influencia minha fala, embora eles não digam “nóis vai ou nóis veve”. Nossa língua é difícil, concordo, mas se pode compreendê-la. Basta estudá-la.
Choco-me quando ouço as falas carregadas de erros gramaticais como as que elaborei no título, não porque venham de pessoas mais simples, humildes, com baixa escolaridade, ou nenhuma. E sim por virem de um grande número de jovens estudantes universitários (os quais, afinal, podem ser considerados membros da elite) fazendo tão pouco caso da língua portuguesa e da norma culta.
Desdenham a importância do falar e escrever bem, e poderão perder oportunidades maravilhosas na vida, por conta desse desleixo no falar, para não dizer no escrever, pois já observei que alguns escrevem pior do que falam, falta-lhes coerência nas ideias, e as palavras que põem no papel carecem de sentido e lógica, muitas vezes. Alguns jamais leram um único livro, por inteiro!
Como exercerão sua cidadania plenamente, vez que incapazes de uma manifestação clara e precisa? Espanta-me, ademais, a atitude dos professores que parecem não perceber esse empobrecimento da nossa língua, fazendo ouvidos “moucos”. A impressão que eu tenho é a de que corrigir a gramática alheia, atualmente, tornou-se tão constrangedor quanto dizer “você cheira mal” ou “você tem mau hálito”. Que absurdo!
Claudio de Moura Castro escreve na Revista Veja de 17/11 p.p. um artigo intitulado Cortina de Burrice. Deblatera contra a péssima qualidade do ensino brasileiro, o que é um fato. Vontade dos governantes, claro, que o povo permaneça ignorante, para melhor dominá-lo. Pão e Circo, ad eternum.
Ri-me da ingênua indignação do Moura Castro, que ele me perdoe, quando relata que numa certa universidade de elite (o que me soa redundante), ao perguntar aos estudantes sobre quantos dominavam a leitura em inglês, poucos levantaram as mãos.
Sequer a leitura em bom português nos dominamos, que triste ilusão pretender que nos comuniquemos em inglês, para uma melhor internacionalização brasileira! Coitada da língua portuguesa, tão massacrada e desprezada.
E daí? Você pode estar se perguntando. Daí que o preocupante é que parte desses jovens se destina à carreira de professores de nossos filhos, netos, sobrinhos, e afilhados, perpetuando, dessa forma, o que Moura Castro chamou de “cortina da burrice”. Cumpre à sociedade reivindicar uma melhor qualidade da educação junto aos governantes, caso contrário, a tendência é piorar. Pois se já temos até um deputado federal analfabeto funcional, que é aquela pessoa que passou pela escola, assina o nome, escreve com dificuldade, mas é incapaz de compreender o que lê. Pensando bem... Parece que já chegamos ao pior...
Norma Moura é advogada, empresária e estudante