Escrevemos dias atrás mais uma brilhante página de democracia no Brasil. Fomos às urnas para coroar um processo iniciado em 3 de outubro, quando do primeiro turno das eleições 2010. É sempre salutar exercer a cidadania. Independentemente de qualquer resultado, venceu o país ao consagrar o voto livre e a liberdade de escolha.
Agora temos definidos os governadores de estado e a presidência da República. É dos novos governantes, assim como do Congresso Nacional e das assembleias estaduais, que devemos cobrar as mudanças urgentes que o Brasil exige, especialmente em áreas prioritárias, como trabalho, moradia, segurança, educação e saúde.
Com afinco, procuramos fazer nossa parte e nos mobilizamos. Até em virtude dos problemas crônicos que vulnerabilizam a saúde, cumprimos no decorrer de todo o ano um calendário de luta em defesa da assistência de qualidade à população, de valorização dos profissionais de medicina e da própria medicina. Temos certeza da qualificação de nossa classe, mas também das nossas insuficiências e mazelas.
Em outubro, aliás, fomos às centenas a Brasília, no Distrito Federal, para manifestação pública por solução imediata ao iminente caos da saúde. Afinados com as demais representações da classe e o conjunto dos médicos brasileiros, protestamos contra o subfinanciamento progressivo, contra as graves interferências dos planos de saúde na autonomia do médico e a gritante defasagem dos honorários.
Foi uma manifestação histórica. Todos de branco, seguimos em passeata do Ministério da Saúde ao Congresso Nacional. Em ambas as instituições, protocolamos um documento assinado pelas entidades nacionais, Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina e Federação Nacional dos Médicos, com as principais reivindicações dos profissionais médicos, uma espécie de síntese do Manifesto de Brasília, consagrada por unanimidade no Encontro Nacional das Entidades Médicas.
No mesmo dia, fomos recebidos pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que se comprometeu a dar encaminhamento a questões que também julga inadiáveis, como a regulamentação da Emenda Constitucional 29 e um orçamento coerente, o que é fundamental para o financiamento adequado ao setor, assim como a construção de uma carreira de Estado para os médicos e a revisão da regulamentação dos planos de saúde. Vamos cobrar.
O mais importante de todo esse processo foi a demonstração de força, de unidade e de disposição de luta de todos nós, os médicos brasileiros. Agora que o Brasil entra em nova etapa, vamos hipotecar um voto de confiança aos recém-eleitos. Entretanto, mantendo a mobilização e priorizando as reais necessidades dos cidadãos. Bons governantes são aqueles que atendem ao clamor de Nação. O Brasil quer mudanças na saúde, já!
Jorge Curi, presidente da Associação Paulista de Medicina