Há 89 anos, muitos votuporanguenses se juntaram à revolta que ocorreu no estado de São Paulo contra o governo de Getúlio Vargas
'Obelisco da Revolução Constitucionalista de 1932' eternizou os nomes dos combatentes; Nasser Gorayeb se recorda do orgulho de seu pai (Fotos: A Cidade)
Da redação
Nesta sexta-feira (9) comemora-se, no estado de São Paulo, os 89 anos da Revolução Constitucionalista de 1932 (é, inclusive, feriado estadual). No dia 9 de julho desse ano, ocorreu uma revolta no estado contra o governo de Getúlio Vargas. E muitos votuporanguenses se juntaram a essa luta.
Em homenagem a esses combatentes da cidade, existe o Obelisco Praça Nove de Julho, também conhecido como Obelisco da Revolução Constitucionalista de 1932. Ele fica na praça Nozombu Abê, localizada na avenida Nove de Julho (que também homenageia a revolução).
Nesse obelisco, os nomes desses combatentes estão eternizados. Eram eles: Alfredo Rodrigues Simões, Aníbal Martins, Aziz José Abdo, Felício Gorayeb (veja no final da reportagem uma entrevista com seu filho, Nasser), Felipe Munhós, Hernani de Mattos Nabuco, Judith Freitas da Silva Saltini, Leônidas Pereira de Almeida, Luiz Saltini, Ofélia Catelli Jabur, Narciso Pelegrini, Olívio Araújo e Nelcíades de Oliveira.
A revolução
A revolta ocorreu porque as elites paulistas buscavam reconquistar o comando político que haviam perdido na Revolução de 1930, quando Getúlio derrubou o presidente Washington Luís e pôs fim à República Velha.
Alçado ao comando da nação por força de circunstâncias, Vargas se comprometeu a chamar novas eleições e a promover uma Assembleia Nacional Constituinte. Mas, em vez disso, fechou o Congresso e passou a governar de forma autocrática, por meio de decretos, reduzindo autonomia dos estados, que receberam interventores federais.
Por isso, o movimento reivindicava novas eleições e a promulgação de uma nova constituição.
História
Alguns desses interventores - que, geralmente, eram militares ou pessoas ligadas a Vargas - não conseguiam angariar apoio da população dos estados. Além disso, a não concretização da nova constituição e das eleições presidenciais desagradou parte considerável dos paulistas.
No dia 23 de maio de 1932, no centro da cidade de São Paulo, foi organizada uma manifestação contra a centralização do poder de Vargas, a favor das eleições e de uma constituinte. Houve repressão da polícia e quatro estudantes foram mortos.
Um dos símbolos estampados em cartazes e panfletos do movimento, o "M.M.D.C", carregava as iniciais dos estudantes que perderam a vida no ato. São eles: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. O fato gerou comoção entre habitantes do estado de São Paulo - inclusive votuporanguenses.
Conflito
O conflito teve início no dia 9 de julho de 1932 e foi liderado pelo interventor do estado, Pedro Toledo — nomeado pelo próprio Vargas. Com forte campanha publicitária, o movimento contou com a participação de muitos jovens.
O estado esperava contar com tropas de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas não obtiveram sucesso. Já a revolta teve ajuda da população, que doou pertences de ouro para a aquisição de munição.
Foram registrados fortes conflitos armados entre os revoltosos e as forças varguistas no Vale do Paraíba, região de divisa entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Depois de perderem muitos combatentes, o movimento paulista se rendeu, em 2 de outubro do mesmo ano. No confronto, mais de 900 pessoas morreram.
Legado
Apesar dos rebeldes paulistas terem perdido no combate militar, uma das demandas da revolta foi atendida, com uma nova Assembleia Constituinte e a promulgação da nova Constituição. O Congresso foi reaberto e os partidos políticos, extinguidos no golpe de 1930, voltaram a atuar.
Getúlio Vargas foi eleito presidente por eleições indiretas. Já Armando Sales, interventor de São Paulo nomeado em 1933, foi eleito governador do estado por meio da constituinte estadual em 1935.
Entrevista
Passados 89 anos da revolução, os nomes dos combatentes estão eternizados não apenas em monumentos, mas também na memória de familiares e amigos.
Felício Gorayeb, pai do empresário Nasser Gorayeb, que foi colunista do
A Cidade por décadas, está entre os guerreiros que foram para o fronte de batalha. Como ainda era muito jovem na época, Nasser tem poucas recordações sobre os relatos do pai, mas se lembra bem do orgulho que ele e os demais votuporanguenses tinham de ter lutado na revolução.
"Eles se sentiam muito orgulhosos e nós também temos orgulho deles. São brasileiros que procuraram o que era melhor para o país na ocasião", disse ele.