Não é de hoje que o campo regional dá lições de resiliência. São muitos desafios e, mesmo assim, o pequeno produtor rural segue em frente. Mas a pergunta que tem rondado cada vez mais o Noroeste Paulista é e se, além da força no braço, o agricultor tiver tecnologia, planejamento e apoio qualificado?
É essa a proposta do ALI Rural, um programa do Sebrae-SP que vem transformando, discretamente, a rotina de centenas de propriedades da região de Votuporanga. A sigla, que soa como nome de gente, e de fato é, já que o agente local de inovação é um profissional que acompanha de perto o produtor, carrega um conceito simples e poderoso, o de levar inovação para dentro da porteira.
Inovação aqui não é só drone ou aplicativo de clima. É pensar na embalagem do queijo, na logística da mandioca, na divulgação do sítio no Instagram. É entender que, hoje, o rural também precisa ser digital, conectado e estratégico. E isso se faz com acompanhamento técnico, com diagnóstico, com plano de ação, tudo o que o ALI Rural oferece de forma 100% subsidiada.
Na prática, o produtor que participa do programa recebe a visita de um agente capacitado pelo Sebrae-SP, que escuta, observa e mapeia os pontos fortes e os gargalos da propriedade. Não há receita pronta, cada diagnóstico é personalizado. Pode ser que, para um produtor de hortaliças, o problema seja a perda no transporte, para outro, que vende embutidos (linguiça, bacon, salame), a dificuldade esteja na precificação. O agente atua como um parceiro técnico, ajudando o agricultor a enxergar caminhos que muitas vezes, na correria da lida, passam despercebidos.
Esse acompanhamento dura 12 meses e envolve desde orientação sobre gestão financeira e boas práticas até sugestões de ferramentas digitais simples, como a criação de uma conta no WhatsApp Business ou o uso de planilhas para controlar o estoque. Tudo com linguagem acessível e voltado à realidade do pequeno produtor. Ao fim do processo, o que se vê é uma mudança que vai além do aspecto produtivo, há mais organização, mais segurança nas decisões e, muitas vezes, um novo ânimo para empreender com visão de futuro no campo.
A região de Votuporanga tem se destacado nesse movimento. Casos como o da produtora Márcia, de Guzolândia, que triplicou os clientes da agroindústria com ajuda do projeto, mostram que o impacto vai muito além da produtividade. Mexe com autoestima, com permanência no campo e com futuro.
Mais bonito ainda é ver que o projeto não fica restrito ao campo. Um estudo de caso do ALI, em Álvares Florence, foi parar na USP, premiado em congresso de inovação. Ou seja, o que nasce no chão batido de Álvares Florence pode ganhar o Brasil como exemplo de empreendedorismo rural.
Iniciativas como o ALI Rural mostram que, com o incentivo certo, o agricultor pode mais. Porque a tecnologia pode até ser urbana, mas a inovação, essa, sim, nasce mesmo é no campo.