A potencialidade humana para o exercício da inteligência é a mesma, entre uma criança negra e uma branca, entre um jovem negro e um jovem branco. Mas, ao olharmos para a universidade, vemos que ela permanece predominantemente branca.
“Entre os jovens brancos com mais de 16 anos, 5,6% frequentavam o ensino superior em 2007, enquanto entre os negros esse percentual era 2,8%. Em 1997, esses patamares estavam em 3% e 1%, respectivamente. [...] Em outras etapas do ensino também há desigualdade entre negros e brancos. O último censo do IBGE aponta que, entre os 14 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos, 30% são brancos e 70% são pretos ou pardos”. (http://www.brasil.gov.br/noticias)
A falta de uma política que assuma a educação de base como prioridade primeira fará com que sempre tenhamos que conviver com as cotas, e com a tendência à acentuada queda na excelência das universidades, uma vez que as habilidades e as competências exigidas dos alunos não formam construídas.
As políticas de Ações Afirmativas, que têm como objetivo principal a inclusão, deveriam promover não a inclusão artificial ou formal à universidade aos 18 anos de idade ou mais, mas garantir, desde os primeiros anos do ensino básico, a real inclusão à igual educação com qualidade, o que seria expressão de justiça como equidade, uma vez que teria nivelado as condições de competição.
Ora, na realidade brasileira, o que vem acontecendo? Porque tanta reação à implantação das cotas? Podemos agrupar as reações contrárias em dois grupos principais: Destacamos estão alunos de escolas particulares e seus familiares, que tiveram a oportunidade de acesso a um ensino incomparavelmente melhor estruturado e dinamizado. E destacamos, igualmente, os profissionais em educação e os diferentes especialistas que lançam um olhar crítico sobre a realidade brasileira, pois percebem que estamos colocando um teto protetor ou uma laje em uma casa sem fundamento, sem base.
Assim, se a primeira reação contrária à política de cotas é movida pela impulsividade individualista e interesseira, sem o espírito republicano, a segunda reação é profundamente amadurecida, crítica e deve ser acolhida como vinda de quem ama e quer o Brasil como nação.
Essa espécie de “discriminação positiva”, representada pelas cotas, aos 18 anos, acaba sendo um atestado da histórica negligência do Estado e dos governos.
Estamos em plena campanha eleitoral e o que se percebe nas bases municipais não parece ser uma inquietude relacionada à referida inclusão a todas as crianças, filhas de famílias enriquecidas ou empobrecidas, brancas, “esbranquiçadas”, pardas ou negras;
Aos mestres, especialmente aos que atuam na educação pública, a gratidão pela coragem, dedicação e permanente superação para fazerem de uma realidade, abandonada e sem a devida assistência, um lugar e um tempo de ensino e aprendizagem significativa. Contudo, lançamos também o desafio para alimentarmos a esperança militante, na luta pela efetiva inclusão para que as cotas não mais necessitem, amanhã, de serem implantadas como uma ação de intervenção, pois terá havido uma política que proporcionou a todas as crianças, adolescentes e jovens o igual acesso à educação com qualidade, podendo, então, valorizar o mérito, como expressão de equidade.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador