Pela primeira vez, Braw Michael Verde deu sua versão e afirmou não ter sido responsável pelo tiro
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
O comerciante Braw Michael Verde, de 25 anos, negou ser o autor do tiro que matou a bebê Ana Clara da Silva Lagoin, de dez meses de idade, e de duas tentativas de homicídios contra a bisavó e um primo da criança. O suspeito, preso desde a noite do crime, em 10 de dezembro do ano passado, falou pela primeira vez à Justiça, durante aundiência realizada nesta semana no fórum local.
De acordo com a versão apresentada por ele, no momento do crime, ele estava participando de um churrasco, nas casa dos pais. Um dos advogados de defesa, Marcus Gianezi, contou à reportagem os detalhes sobre o depoimento de Braw, que ocorreu na tarde da última segunda-feira, às 13h30, na presença do juiz Antônio Carlos Francisco, do promotor Cleber Takashi Murakawa, e do outro advogado de defesa, Romualdo Castelhone.
Segundo Gianezi, 15 testemunhas, sendo sete de acusação e oito de defesa prestaram depoimento. Entre os que falaram, estava a bisavó da criança Aparecida Benta dos Santos, que no momento do crime segurava no colo Ana Clara e a mãe da bebê, Fabíola Crispim da Silva.
Braw foi o último a falar. Ele explicou que não havia se pronunciado sobre o caso sob orientação do antigo advogado. Na audiência, negou ter entrado na casa e efetuado disparos e também que usava as roupas que testemunhas disseram que ele trajava. "Ele contou que na hora dos acontecimentos, estava em um churrasco na casa dos pais, informação que foi confirmada por mais que uma testemunha. Braw contou que em determinado momento, decidiu ir até a casa de um amigo no bairro Pozzobon. Ele pegou o carro do pai e fez o caminho por pista, já que não queria atravessar a cidade dirigindo, pelo fato da carteira de motorista dele estar vencida e por ter ingerido bebida alcoólica. Antes de chegar na casa do amigo, ele acabou fechando uma moto, derrubando o motociclista, mas foi embora sem prestar socorro. Nas casa do amigo, ele foi preso pela PM e por isso disse aos policiais a frase 'eu fiz m...´, se referindo ao acidente, e não porque tinha cometido um homicídio", afirmou o advogado.
A audiência para a tomada de todos os depoimentos, inclusive o de Braw, durou cerca de três horas. O supeito continua preso em Andradina, aguardando decisão da Justiça.
Negativa de autoria
Ainda segundo o advogado criminalista Marcus Gianezi, a estratégia de defesa do suspeito vai se basear na negativa de autoria. Ele aponta que há depoimentos contraditórios em alguns pontos, como por exemplo na descrição das testemunhas quanto as vestes utilizadas pelo assassino, que de acordo com a defesa, não eram parecidas com as que Braw utilizava.
"Ele nega que tinha atirado. As provas terão que aparecer. Pela ótica da defesa, foram constatadas algumas incoerências nos depoimentos, com relação às roupas que ele utilizava e até se realmente ele foi visto na cena do crime, ou se acham que era ele. A arma também não foi localizada. Foi feito perícia nas mãos dele, para busca de vestígios de pólvora, afinal foram quatro tiros, mas os resultados deram negativo", avaliou o advogado de defesa.
Crime
A morte da bebê Ana Clara da Silva Lagoin, de 10 meses e sete dias de vida, ocorreu na noite de um sábado e deixou estarrecida a população votuporanguense. A criança foi atingida quando estava no colo da bisavó, dentro de casa no bairro Palmeiras I. Segundo boletim de ocorrência registrado no Plantão Policial Permanente, o crime ocorreu por volta das 20h20, em uma casa no cruzamento das ruas Domingos Mega, com a Doutor Joaquim Franco Garcia. .
De acordo com o que foi apurado, o suspeito de ter praticado o crime do crime, Braw Michael Verde, de 25 anos, proprietário de um bar localizado frente à casa da vítima foi denunciado à PM pelos moradores do bairro por perturbação de sossego na tarde de sábado. O rapaz foi abordado pelos vizinhos e não gostou.
Depois, Braw teria entrado no quintal do imóvel, caminhado até a casa dos fundos e da janela, efetuado quatro disparos. Os tiros transpassaram as cortinas e as paredes da casa. Uma das balas atingiu de raspão a mão do adolescente Mateus crispim de Souza, de 15 anos. Já um outro projétil atingiu o peito da pequena Ana Clara, que estava no colo da bisavó, Aparecida Bento dos Santos.
O comerciante Braw Michael Verde, 25 anos, foi oficialmente denunciado à Justiça pelo Ministério Público (MP) de Votuporanga por homicídio duplamente qualificado contra Ana Clara da Silva Lagoin, de dez meses de idade, e duas tentativas de homicídios contra a avó e um primo da criança. Os crimes ocorreram por volta das 20 horas do dia 10 de dezembro de 2011, no bairro Palmeiras. Com a denúncia, ele deve ser julgado pelo Tribunal do Júri Popular e pode pegar 30 anos de prisão.
O MP qualificou o crime como covarde, brutal e odioso. O bebê foi atingido por um tiro no peito e morreu instantaneamente. Já Aparecida Benta dos Santos, 68, e um adolescente de 15 anos, levaram tiros de raspão.
A morte da criança e a violência empregada no crime repercutiram em toda a região. Segundo a denúncia do MP, as provas policiais e periciais indicam que o acusado invadiu o quintal da casa das vítimas e disparou pelo menos quatro tiros de revólver pela janela da sala da casa dos fundos. Ana Clara foi atingida em cheio por uma das balas.
“...agindo dolosa e covardemente impelido por motivo insignificante e mesquinho, muniu-se de arma de fogo e dirigiu-se até a casa de Aparecida Benta dos Santos, sendo que, de maneira totalmente inesperada e abrupta, agindo de surpresa, estando do lado de fora do imóvel, junto ao vitrô da sala, posicionou a arma junto à cortina e, demonstrando fenomenal desprezo e ódio pela vida de seus semelhantes, efetuou quatro disparos na direção de Aparecida, a qual estava sentada no sofá segurando no colo o bebê...”, escreveu o promotor Marcus Vinícius Seabra, que atuou na primeira fase processual.
De acordo com o promotor, o acusado agiu para se vingar de Aparecida Benta, supostamente autora de denúncia de perturbação de sossego, já que Verde é dono de um bar vizinho da casa e deixava o som de seu veículo em volume alto. A juíza Daniela Camberlingo Querubim recebeu a denúncia e manteve a prisão preventiva do acusado.
Outro lado
O comerciante está preso desde a data do crime em Andradina. Ele teve de ser transferido do Centro de Detenção Provisória de Rio Preto por motivo de segurança. O advogado Romualdo Castelhone repassou a segunda etapa da defesa a Marcos Antônio Gianezi.
“A princípio vamos questionar a denúncia e formular a íntegra da defesa nos próximos dias”, disse Gianezi. Além de atacar as qualificadoras de crime hediondo, o advogado questiona a autoria do crime atribuída a Verde.
O recurso com pedido de liminar para soltura do comerciante chegou ao Tribunal de Justiça ontem. Já o mérito do processo é apreciado pelo juiz Antônio Carlos Francisco e pelo promotor Kleber Murakawa, da 5ª Vara da Comarca. (Colaborou José Luiz Lançoni)