Vi uma reportagem no Fantástico dia destes, em que uma escola situada na zona rural no Nordeste, funcionava em um curral. Os estudantes viajavam de cavalo mais de 10 km para frequentar as aulas e seus depoimentos traziam não apenas cansaço ou sacrifício, mas sonhos, sonhos que resistem, mesmo nas condições mais adversas. Atualmente, tempos acelerados, em que a escola é frequentemente pressionada a formar para o mercado, para o desempenho, pa-ra os rankings. Avaliações e resultados se impõem como metas centrais. Mas, nesse caminho, onde fica o ser? Onde se acolhe o sentir? Onde se encontra espaço para simplesmente existir? Desde cedo, muitos de nós fomos ensina-dos a funcionar, a sermos produtivos, úteis, eficientes. Mas não fomos ensina-dos a existir de forma inteira. Aprendemos fórmulas, regras e padrões, mas de-saprendemos a escutar a nós mesmos. A educação, em sua essência mais pro-funda, é o caminho para despertar o ser. Ela não se limita a transmitir conteú-dos: ela forma consciências, desperta sensibilidades e convida à responsabili-dade. Há um pedaço do aluno que resiste, que se recusa a morrer. Uma parte sensível, criativa, questionadora. Muitas vezes silenciada pela pressa da rotina escolar ou sufocada pela cobrança de resultados, essa parte precisa de espa-ço, escuta e afeto. Quantos outros se retraem para caber em moldes que não os reconhecem? Quantos se apagam para pertencer? Quantos se anulam para serem aceitos? A escola, mais do que nunca, precisa ser lugar de brilho, de voz, de acolhimento. Um espaço onde a alma não adormece, mas desperta. Onde o estudante não é apenas um número no diário escolar. Cada um com suas es-pecificidades. Mesmo em silêncio, eles são intensos, universos vestidos de uni-forme, tentando existir em um mundo que, muitas vezes, o quer apenas obedi-ente, mas na rebeldia há dentro dele algo que clama por sentido. A educação que verdadeiramente transforma é aquela que olha para dentro. Que acolhe o humano. Que compreende que ninguém aprende com medo, com vergonha, com pressa. Educar é acolher. É escutar os silêncios. É acender a esperança. Como dizia nosso querido Paulo Freire: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.” Não estamos apenas ensinando conteúdo. Estamos ajudando universos a se reconhecerem. E isso exige coragem, afeto e presen-ça. Porque educar, antes de tudo, “é um ato de amor radical”. E amar é acreditar, é insistir, é cuidar, mesmo quando tudo parece desanimar. Que a escola volte a ser espaço de sentido. Que a educação reencontre seu propósito maior: formar pessoas inteiras, conscientes, sensíveis. Porque o mundo não precisa apenas de mãos que produzem, mas de corações que sentem e de mentes que pensam com liberdade.