Moramos distantes 520 quilômetros, da capital do Estado. O rio Tietê, nascendo perto do Oceano, dirige-se interior adentro, e após percorrer mais de 600 quilômetros, vai desembocar no Rio Paraná, atravessando todo o interior. Isto levou, sem dúvida, à colonização do estado, pois colocando a cidade de São Paulo, como ponto de interseção de várias linhas, partiram caminhos imitando o Rio Tietê. Estradas foram construídas para o norte, noroeste, oeste, sudoeste, sul, criando vias de penetração por todo o Estado, que no início eram estradas de ferro e posteriormente, nas últimas décadas estradas de rodagem, paulistas, que, talvez, sejam as melhores do país. As estradas federais cobrem apenas 5% de toda a malha rodoviária do nosso Estado. Entre estas, entretanto, é bom salientar a Via Dutra, que liga as duas cidades mais importantes do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Com traçado quase paralelo ao Rio Paraíba, passa por Aparecida, onde se descortina uma vista imponente da Basílica, construída em homenagem à padroeira de nosso país: Nossa Senhora Aparecida.
Quando era criança, viajava de trem para São Paulo, com meus pais, e contemplava em cada cidade, da janela do trem, a torre da sua Igreja Matriz. Era uma vista comum em todas as cidades, visto que as linhas férreas cruzavam as áreas urbanas, que eram muitas, entre Votuporanga e São Paulo. A partir das décadas de 70/80, já com esposa e filhas, não viajávamos mais de trem, pois estes não possuíam mais o serviço de passageiros. As viagens passaram a ser por via rodoviária, de ônibus, ou de carro, e como as estradas de rodagem possuem outros tipos de traçados, estes não cruzam as áreas urbanas das cidades, ou quando muito, passam em sua periferia e consequentemente as paisagens, com as vistas para as torres das igrejas, praticamente desapareceram.
Comecei a observar, também, que juntamente com o crescimento das cidades, e com as exigências das leis dos loteamentos, ou do parcelamento do solo urbano, os investidores ou loteadores, são obrigados a deixar áreas para praças e ocupações institucionais (escolas, postos de saúde, etc...). Desapareceu o marco fundamental da nossa tradição: a praça, ou o largo, para a Igreja, pois todas as nossas cidades cresceram em torno do templo, na praça central, que respaldava a fé de cada rincão que surgia nesse imenso país.
Nas cidades menores, ainda é possível, de qualquer um de seus pontos, avistar as torres das Igrejas, existentes nos seus centros, ou mesmo nas cidades maiores, nos loteamentos mais antigos. Nos novos empreendimentos isto não acontece, pois o investidor que realiza o loteamento, não precisa reservar espaço para a doação de uma praça para a Igreja, pois no nosso estado laico, tal pretensão nada somará às áreas obrigatórias, exigidas por lei.
Nos grandes centros urbanos, além de não possuirmos mais os espaços, vem mais um problema: a distância das áreas residenciais até uma Igreja.
Perguntaram ao Cardeal Arcebispo de São Paulo, o que poderia a Igreja Católica fazer pela cidade. Explicou que a Igreja prega uma cidade mais solidária, e que se preocupa para que ela se torne cada vez mais um instrumento a serviço de Deus.
Espaço e distância tem que ser pensados e solucionados nas tendências que regem o comportamento da sociedade moderna. Os centros urbanos carecem de uma presença de uma Igreja, de forma geral. Oscar Niemeyer, o nosso grande arquiteto, que rompeu padrões arquitetônicos, políticos e sociais, não esqueceu de nossa tradição, reservando um espaço na parte central de Brasília para a construção de sua catedral, cujas formas engradecem a sua obra.
Há espaços para serem conquistados. Não podemos ficar de braços cruzados, mas sim repassar a fé para as gerações e costumes de nossos tempos e levar uma evangelização adaptada a estas realidades, com novos métodos, nova linguagem, novo ardor, sem perder o essencial: mostrar a presença de Deus e o seu principal mandamento: amar ao próximo como a nós mesmos.
Feliz Páscoa para todos.
*Jesus Silva Melo é engenheiro e colabora com o jornal aos domingos