Bom, sempre apontamos os mesmos culpados: infraestrutura escolar, salário dos professores e material didático. Porém, quem trabalha na área da educação sabe que, como dizem, o buraco é muito mais embaixo… Talvez alguns problemas sejam mais abrangentes e sociais do que possamos imaginar.
Professores mal formados e sem carga cultural lotam nossas escolas. São os típicos professores que explicam uma matéria a qual também não compreendem, além da falta de vivência cultural. Fazem poucas conexões entre assuntos durante as aulas e oferecem pouco mais que o básico a seus alunos. Sem contar os professores indignos que não se preocupam muito se os alunos estão aprendendo ou não, estes, sinceramente, não sei por qual motivo decidiram seguir a carreira de professor, que é algo que demanda além de disciplina, conhecimento e cultura, também paixão pelo que se faz, e muita dignidade.
Nesse meio temos também (e isso é um pouco óbvio) pedagogos viciados em trabalhos manuais, livros de autoajuda e colagens de E.V.A. Tudo muito bonitinho em discursos e fotos, mas na prática pouco ensina se não tiver subsídio teórico. Enquanto tivermos uma educação que trata problemas com um olhar infantilizado, usando a desculpa da ludicidade, nada mudará. Alunos precisam sim de trabalhos que envolvam diversos conhecimentos e capacidades, afinal, eles são de uma geração visual e multi-informacional, mas não encontramos isso nos professores… Encontramos sempre o mesmo discurso autoajuda religioso, o qual no lugar de trazer reflexão e aprendizado, apenas acomoda o aluno.
As escolas municipais oferecem uma infraestrutura e materiais escolares dignos, além de um salário razoável para seus professores (tem que melhorar muito), mas o real problema começa antes da escola.
Muitos pais mal sabem em qual ano letivo seu filho está. Não se preocupam com notas ou envolvimento do aluno com a escola. Boa parte de uma boa educação vem de exemplos familiares. O que os pais têm feito pela própria educação? Qual filho vê o pai lendo em casa?
Os pais hoje em dia se importam mais em ouvir uma balada sertaneja e assistir um BBB do que com a educação dos filhos.
Nossa mídia, infelizmente, prega uma vulgarização de qualquer conhecimento cultural e erudito / científico (por favor, saibam interpretar). Dá-se valor ao dinheiro ganho facilmente e no trabalho apenas braçal, que é muito digno e, realmente, exige muito do ser humano. Mas e a parte intelectual? Quantos pais (e professores) que dizem para o jovem estudar apenas pela necessidade do diploma. Aqui se estuda para trabalhar, não para adquirir conhecimento. Nisso o menino já vai à escola sem se preocupar em aprender. O que vale, como dizem, é “ter o canudo”. Precisamos de vergonha na cara e começar a dar valor no aprendizado. Quem se dedica a pensar, refletir e ter conhecimentos, pode não ter o sucesso profissional incentivado por novelas ou igrejas neoliberais, mas certamente terá um olhar mais crítico sobre a vida e, sim, poderá fazer a diferença na sociedade. Saberá mudar a situação não só a seu favor, mas a favor do meio.
Poderíamos tentar um trabalho social com os pais de nossos alunos. Nossa cidade tem um viés social muito forte, só que o problema de muitos assistentes sociais é o mesmo de alguns professores e pedagogos: total alienação social (irônico, não?) e cultural. Como esperam envolver-se em problemas morais e éticos se não têm a menor noção moral e ética.
Triste é saber que muita gente influente tem conhecimento desses (e de outros) problemas sociais que acabam com a nossa educação, mas não fazem nada por convencionalismo e medo de perder alianças políticas.
Talvez o problema da educação seja um problema sem solução, pois enquanto nosso povo for escravo do que vê na TV, e, enquanto esta continuar sendo banal como é, nada mudará.
*Lucas Gatto é professor de português e músico