Após os ataques de 11 de setembro de 2001, o mundo nunca mais foi o mesmo. Os dez anos de luta contra o terrorismo estão umbilicalmente ligados aos dez anos de impunidade dos Estados Unidos (EUA) perante a Justiça Internacional por violações sistemáticas de direitos humanos, envolvendo outros Estados na sua ofensiva contra o mal e contra os Estados considerados eixo do mal.
Desde os atentados de 11 de setembro contra as torres gêmeas de Nova York (World Training Center), algo mudou e alguns paradigmas foram revistos quanto à hegemonia que, também, ameaçava o mundo antes do surgimento da Al Qaeda de Bem Laden. Se no tempo da Guerra Fria conhecia-se o (s)inimigos(s), desta vez, luta-se contra um inimigo invisível, um monstro com sete cabeças, isto é, com várias ramificações.
Sem dúvida, os atentados chocaram o mundo inteiro e os Estados perceberam que a guerra fria que amedrontava as grandes potências e aliados era algo do passado com o advento do terrorismo no coração das Américas, principalmente em Nova Iorque derrubando os símbolos do capitalismo, da democracia e da liberdade. O inimigo estava dentro e não se tratava mais de uma guerra de ideologias tão distantes, mas de uma luta contra a hegemonia e arrogância de um povo que, com a queda do muro de Berlim e a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), dominava o deserto terrestre e ditava as normas unilateralmente.
Com efeito, antes dos terríveis atentados, os Estados Unidos se destacaram pelo unilateralismo nas relações internacionais, colocando-se como superpotência com direito de interferir direta ou indiretamente nos assuntos internos de outros Estados soberanos em nome da democracia e de causas nobres da humanidade. Esperava-se um mundo mais igualitário, solidário, mas o que se viu e se vive hoje, é exatamente o contrário. A receita americana consistia em levar ao resto da humanidade o kit de valores ocidentais assentados em dois pilares: a democracia e a liberdade.
Os atos de terrorismo que lembraram à volta à barbárie global que havia marcado a humanidade duas vezes pelas duas grandes guerras mundiais serviriam de estopim para os EUA consolidarem e estenderem as dimensões do seu império e para justificarem o não respeito das convenções de Genebra no tocante aos prisioneiros ou combatentes nos Estados invadidos em busca de terroristas e de armas de destruição em massa. A ironia da história com os atentados revelaram também o lado do terrorismo estatal desenvolvido pelos EUA e idealizados nos filmes tais quais Rambo, o resgate do soldado Ryan, o Exterminador do futuro...
Sabe-se que a história da humanidade oscila entre a estabilidade e instabilidade, entre a dominação e a subserviência, entre a ordem e a desordem, entre a legalidade e a anarquia, mas depois dos atentados de 11 de setembro, vive-se um mundo militarmente unipolar e coletivamente imperialista para atacar outros Estados indexados, considerados santuários do terrorismo ou abrigo de terroristas.
Para alguns, o mundo ficou mais inseguro do que era antes e a sensação de vulnerabilidade faz parte do quotidiano, pois o inimigo é invisível e a ameaça é permanente. De modo objetivo, o medo experimentado atualmente faz lembrar a época da guerra fria, da crise de mísseis em Cuba e os anos 70 em que o comunismo, encarnado pela URSS, era temido pelos Estados capitalistas. Se nos anos 30, o fascismo teve um papel preponderante para o inicio da Segunda Guerra Mundial, nos anos 90, ao contrário, viu-se a hegemonia dos EUA como superpotência incontestável sem competidor de igual estatura. Com o surgimento do grupo Al Qaeda, a comunidade internacional que vivia um processo de erosão nas relações de leadership entre os EUA e a Europa, de modo especial, a União Européia, sentiu-se obrigada a rever a sua política na luta contra a ameaça do terrorismo internacional e da proliferação das armas de destruição em massa. Abriu-se, desse modo, a porta de uma nova era de levar para os outros povos e outros territórios os valores ocidentais de democracia e de liberdade, defendendo-os e promovendo-os a qualquer preço.
Segundo o Presidente norte americano Barack Obama, os ataques terroristas não eram apenas dirigidos contra os EUA, mas também contra o mundo, contra a humanidade sedenta de paz, contra as esperanças partilhadas em comum. Para ele, depois de frustrar os planos maquiavélicos da Al Qaeda e de matar Oussama Ben Laden, o grupo terrorista está sendo derrotado. Torna-se imperioso de reafirmar a fé na luta contra o terrorismo e aspirar a um mundo não-violento onde todos possam viver em liberdade, dignidade e paz.
Considerando-se a comemoração do décimo aniversário dos atentados contra o império americano, pode-se indagar o que, realmente mudou? Geopoliticamente, nota-se a recuperação do multilateralismo depois da guerra no Iraque e no Afeganistão. Além da liderança americana, observa-se a emergência da União Européia como parceira indispensável, bem como a China como concorrente séria e potencial ameaça à hegemonia econômica americana no mundo inteiro. Quanto à vertente geoestratégica, o império, apesar de sua potencia militar, vive momentos excepcionais do seu declínio ou de sua sobrevivência. Procurando exportar a democracia e a liberdade como valores indissociáveis e indissolúveis para os territórios ad gentes, o gigante tem destruído a esperança interna pelos resultados econômicos negativos e menos promissores.
A luta contra o terrorismo afetou parcialmente a capacidade de ataque de Al Qaeda, mas a ameaça é real, complexa e diversificada, deixando ainda mais preocupados os EUA e seus aliados. Está na hora de separar as coisas e de deixar a emoção de lado diante de um inimigo invisível, mas comum para saber exatamente como construir o futuro da humanidade, preservando as gerações vindouras do flagelo indizível de destruição indiscriminada movida pelo ódio e pelo espírito de vingança. Que a paz prevaleça e vença a maldade humana!
Sebastien Kiwonghi é advogado e professor de Direito Internacional