Conhece a ti mesmo, soa o conselho eterno dado por Sócrates.
Se as pessoas realmente seguissem o conselho, e seguindo a sabedoria convencional, seria de presumir que você é pessoa que mais conhece a si mesmo, certo?
É uma tendência natural pensar que nos conhecemos melhor do que as outras pessoas nos conhecem.
Contudo, de fato não é assim.
Na conclusão, em vez de consultar a si mesmo para se conhecer melhor, é melhor perguntar a um amigo.
Há aspectos da nossa personalidade que os outros conhecem e que nós próprios não conhecemos, e vice-versa e para obter um quadro completo de uma personalidade, precisamos de ambas as perspectivas.
Não é que não saibamos nada sobre nós mesmos. É que nosso entendimento é obstruído por pontos cegos, criados por nossos desejos, medos e motivações inconscientes.
E o principal desses elementos é a necessidade de manter uma auto-imagem elevada - ou, se estivermos neuróticos, da nossa necessidade de manter uma auto-imagem baixa.
O mais interessante é que, mesmo assistindo uma filmagem de nós mesmos, o artifício não altera substancialmente as nossas percepções - enquanto outros observando a mesma fita facilmente apontam traços que estão inconscientes.
Assim, sem grandes surpresas, nossos entes mais chegados e as pessoas que passam mais tempo conosco nos conhecem mais do que nós mesmos - ou, pelo menos, conhecem aspectos de nós que nós mesmos não conhecemos.
Mas não é só isso: até mesmo os estranhos têm inúmeras pistas de quem somos: roupas, preferências musicais e até postagens nos fóruns ou redes sociais deixam transparecer facetas da nossa personalidade que podem não ser conscientes.
Curiosamente, as pessoas não vêem as mesmas coisas sobre si mesmas que os outros vêem: por exemplo, traços de ansiedade, tais como o medo de falar em público, são óbvios para nós mesmos, mas nem sempre para os outros.
Por outro lado, criatividade, inteligência, e grosseria muitas vezes são melhor percebidas pelos outros.
Isso não ocorre só porque essas características percebidas pelos outros se manifestam publicamente, mas também porque carregam um juízo de valor, algo que tende a afetar o auto-julgamento.
E o mundo nem sempre faz a crítica mais dura a nosso respeito - os outros tendem a nos dar notas mais altas para os nossos pontos fortes do que nós mesmos.
Se isso é verdade, então por que todas estas informações que os outros têm sobre nós, e que nós temos sobre os outros, não ajudam a construir um mundo de pessoas que se entendem melhor?
É porque as pessoas são complexas, há muitas informações sociais, e porque as percepções dos outros são obscurecidas por nossas próprias necessidades e preconceitos.
Além disso, a informação nem sempre está facilmente acessível. É incrível o quão difícil é obter um feedback direto.
O desafio, então, é usar esse conhecimento que temos dos outros para o bem.
Como podemos dar um feedback às pessoas, e como isso pode ser usado para melhorar nosso auto-conhecimento? E como podemos utilizar esse auto-conhecimento para ajudar as pessoas a serem mais felizes e terem um melhor relacionamento?
A primeira resposta a estas perguntas pode ser a mais óbvia, mas não é a mais fácil de ser colocada em prática: Ouvir os outros. Eles podem saber mais do que você mesmo sobre si próprio.
Cleide Semenzato - colaboradora