Detalhes vieram a público após a 2ª Vara Criminal aceitar a denúncia contra o acusado e o tornar réu por homicídio triplamente qualificado
Novas provas do processo mostram que, além da voadora, Fernando Guerche teria atirado um bloco de concreto contra Milton (Foto: Reprodução)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Novas provas incluídas no inquérito, especialmente as imagens de câmeras de segurança, revelaram que o ataque que matou o idoso Milton de Oliveira Bolleis, 70 anos, em um bar de Votuporanga, foi mais violento do que se sabia inicialmente. Antes, acreditava-se que a morte havia sido causada apenas por uma “voadora”, mas as investigações demonstraram que o acusado Fernando Rodrigo Guerche, 46, além do golpe inicial, também teria arremessado, duas vezes, um bloco de concreto de 5,1 kg contra o peito da vítima.
As novas informações vieram a público após o juiz da 2ª Vara Criminal de Votuporanga, Vinicius Castrequini Bufulin, aceitar a denúncia, apresentada pelo promotor José Vieira da Costa Neto, contra o acusado e o tornar réu por homicídio triplamente qualificado. O Ministério Público requer que o acusado seja levado a júri popular.
O caso
As imagens anexadas ao processo mostram que não havia qualquer desavença prévia entre os dois. No entanto, conforme a denúncia, por volta das 20h55, Guerche se aproximou de Milton sem motivo aparente e iniciou uma provocação, chamando-o de "caminhoneiro veado", expressão que segundo testemunhas e depoimentos “a vítima não aceitava por ser ofensiva à sua honra”.
Milton levantou-se e tentou reagir verbalmente, e em seguida ocorreu uma breve troca de socos. Frequentadores do bar intervieram e separaram os dois, encerrando o conflito naquele momento.
Milton então retornou ao banco de concreto, retomou o preparo da carne e ficou de costas para a rua, sem imaginar que seria novamente atacado. As investigações revelaram que foi neste momento que Guerche deixou a área frontal do bar e caminhou até seu carro, um Chevrolet Onix branco estacionado do outro lado da rua.
De acordo com o Ministério Público, as câmeras mostram que ele abriu o porta-malas e procurou um objeto que pudesse usar como arma, possivelmente uma chave de rodas. Não encontrando nada, ele teria quebrado um bloco de concreto da calçada usando as mãos e o levantou, retornando armado em direção ao idoso.
Às 20h58, as câmeras registraram o ataque. Guerche percorreu a rua correndo, tomou impulso e acertou Milton com uma “voadora”, fazendo com que a vítima caísse para trás, ainda sentada no banco. Na sequência, conforme a denúncia, arremessou com as duas mãos o bloco de concreto de 5,1 kg diretamente contra o peito de Milton, atingindo a região torácica com extrema violência.
Segundo o laudo necroscópico, o impacto provocou seis costelas fraturadas, afundamento torácico e hemotórax maciço, com mais de 1,5 litro de sangue acumulado, causando choque hipovolêmico e insuficiência cardiorrespiratória. Ainda conforme a denúncia, mesmo após o primeiro impacto, Guerche tentou arremessar a pedra novamente, mas foi impedido por pessoas que estavam no bar.
Após a agressão, o acusado entrou em seu carro e fugiu do local dirigindo embriagado. Foi localizado pela Polícia Militar minutos depois com fala pastosa, odor etílico e andar cambaleante, conforme consta no laudo de embriaguez juntado ao processo.
Justiça
O juiz Vinicius Castrequini Bufulin recebeu a denúncia ao reconhecer indícios suficientes de autoria e materialidade do crime, afirmando que a acusação preenche os requisitos legais. Com isso, o réu foi citado para apresentar resposta à acusação em até 10 dias e continuará preso preventivamente. A audiência de instrução, interrogatório e julgamento foi marcada para 26 de novembro.
A Justiça também requisitou ao Instituto Médico Legal imagens e laudos complementares sobre as lesões sofridas pela vítima, além de registros criminais do acusado.
Fernando Guerche permanece preso e responde por homicídio qualificado e embriaguez ao volante. O Ministério Público requer que o acusado seja levado a júri popular e condenado, além de pedir indenização mínima à família da vítima.
Defesa diz que Guerche reagiu a agressões e que não tinha a intenção de matar
Procurada pelo
A Cidade, a defesa de Fernando Guerche se manifestou por meio de uma nota oficial encaminhada à redação. No documento, os advogados José Romeu Rodrigues Júnior, Victor Hugo Cardoso dos Santos e Caio Henrique Hermenegildo de Castro afirmam que seu cliente apenas reagiu a agressões que teria sofrido da vítima e que não tinha a intenção de matar Milton.
Confira a nota em seu inteiro teor:
A defesa do senhor Fernando Rodrigo Guerche vem, por meio desta nota pública, manifestar, conforme requerimento do Jornal A Cidade de Votuporanga, a respeito da ação penal que apura a morte do senhor Milton De Oliveira Bolleis.
Desde o início das investigações, a defesa e o acusado estão trabalhando intensamente para auxiliar as autoridades a elucidar toda a dinâmica dos fatos. Neste ponto, destaca-se o excelente trabalho, cordialidade e respeito que a autoridade policial, Ministério Público e Judiciário têm fornecido à defesa.
Em relação à narrativa feita pelo Ministério Público, a defesa entende que existem alguns equívocos, especialmente no que se refere à capitulação dos crimes denunciados, bem como da dinâmica do ocorrido.
Conforme os relatos testemunhais, bem como das próprias imagens das câmeras de segurança, observa-se, de plano, uma dinâmica em que a vítima, a qual possui registros policiais por ameaça, injúria, lesão corporal e violência doméstica, inicia as agressões desferindo socos em Fernando, tendo as lesões laudadas pelo instituto de perícia. Em seguida, diante das desproporcionais agressões, Fernando repeliu-as.
Infelizmente, como consequência do ocorrido, tem-se a morte do senhor Milton, o qual todos lamentam.
A dinâmica do ocorrido está em apuração, tendo o juiz Dr. Vinicius Castrequini Bufulin, no momento do recebimento da denúncia, deferido pedido complementar da defesa para que o IML informe se havia ou não sinais externos (lesões aparentes) na vítima, principalmente na região das costelas.
Apesar da apuração do delito estar em curso, a presente defesa afirma que, em nenhum momento, houve qualquer comportamento, por parte de Fernando, com a intenção de matar, sendo isto corroborado pelos depoimentos dos próprios filhos da vítima, que confirmaram a ausência de qualquer desentendimento prévio ou motivação anterior aos fatos.
Ao fim, ressalta-se que o senhor Fernando é um cidadão de bem, trabalhador, além de ser muito bem quisto tanto no seio de sua família quanto da sociedade em geral, e que nunca teve qualquer situação que desabonasse a sua conduta.
Continuamos à disposição para quaisquer esclarecimentos e seguiremos auxiliando na apuração dos fatos e consequente comprovação da inocência de Fernando sobre o delito de homicídio. No mais, aguarde-se o prosseguimento do feito. Belo Horizonte/MG, 16 de outubro de 2025. José Romeu Rodrigues Júnior, OAB/MG 68.789, Victor Hugo Cardoso dos Santos, OAB/MG 208.943, Caio Henrique Hermenegildo de Castro, OAB/MG 211.388.