O jornal A Cidade conversou com religiosos sobre a definição e o significado do Dia de Finados para suas respectivas vertentes
O espírita Waldenir Cuin, o padre Gilmar Margotto e o pastor Paulo Henrique Lima falam sobre o Dia de Finados para suas vertentes (Fotos: Arquivo pessoal)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
A morte sempre recebeu uma atenção especial, em toda cultura ou civilização. Do enterro em covas à mumificação, das pirâmides de Gizé, no Egito; ao Taj Mahal, na Índia, os mortos sempre receberam uma espécie de cuidado que transcende crenças e religiões.
Um exemplo disso é o Dia de Finados, feriado nacional celebrado nesta terça-feira (2), em que milhares de votuporanguenses visitam os túmulos dos seus familiares, amigos e conhecidos. Essa, no caso, é uma tradição popularizada pelo catolicismo. E esse dia foi instituído na Baixa Idade Média (entre os séculos 10 e 15).
O jornal
A Cidade conversou com religiosos de Votuporanga sobre a definição e o significado do Dia de Finados para suas respectivas vertentes, bem como as reflexões que ele traz aos fiéis.
Significados
Para o padre Gilmar Margotto, que é responsável pela comunicação da Diocese de Votuporanga, a celebração aos falecidos lembra que a morte do cristão segue as pegadas de Jesus Cristo, o que representa uma vitória sobre o pecado e a natureza humana.
“A morte nos leva para a vida plena, a glória, a ressurreição. A vida terrena é preparação para a vida do Céu. Ao morrer, a pessoa se encontrará diante de tudo o que constitui objeto das suas aspirações mais profundas: se encontrará diante de Cristo e será a opção definitiva, construída por todas as opções parciais da Terra”, disse o padre.
Já para Waldenir Cuin, presidente da Associação Espírita “Irmão Mariano Dias”, a morte é apenas um fenômeno físico e, por isso, a doutrina espírita não tem uma data específica para lembrar aqueles que partiram.
“Para nós, os entes queridos estão vivos em outra dimensão, portanto a nossa ideia é de que devemos lembrar-nos deles todos os dias, através das coisas boas que fizeram conosco, as lembranças agradáveis”, explicou Cuin.
Ele também apontou que, para ele, os mortos estão, na verdade, ausentes. “A lembrança deve ser constante, então nós nos lembramos dos nossos entres queridos com as nossas preces qualquer dia e em qualquer oportunidade”, disse.
O pastor da Igreja Presbiteriana de Votuporanga, Paulo Henrique Sales Lima, explicou que as igrejas evangélicas, de modo geral, não reconhecem o feriado de Finados.
“A Igreja Evangélica não compreende que exista na bíblia uma orientação para que se faça isso. Na verdade, o Dia de Finados foi uma proposta da Igreja Católica, conseguindo colocar no calendário nacional, baseada na doutrina que os católicos têm do purgatório, aquela ideia de que quando morre alguém a gente deve fazer missas de sétimo dia e acender velas”, explicou o pastor.
O religioso frisou, porém, que isso não significa que a Igreja Evangélica não respeite e considere os entes queridos, amigos e parentes que faleceram. “A gente trata com muito respeito, mas acreditamos que o corpo da pessoa que morreu precisa ser sepultado com toda honra e reconhecimento de quem foi aqui na terra. Nós não intercedemos por aquela alma. A nossa religião crê na ressurreição, mas não intercedemos pela aquela alma que está ali. A gente crê que quando existe a morte física, segue só o juízo, não tem como mais orar por aquela alma”, disse o pastor Paulo.
História de Finados
O Dia de Finados, como é conhecido hoje em dia, foi instituído no século 10, na abadia beneditina de Cluny, que fica na França, pelo abade Odilo (ou Santo Odilon, como é conhecido entre os católicos). Odilo de Cluny sugeriu, no dia 02 de novembro de 998, aos membros de sua abadia que, todo ano, naquele dia, dedicariam suas orações à alma daqueles que já se foram.
A ação de Odilo resgatava um dos elementos principais da cosmovisão católica: a perspectiva de que boa parte das almas dos mortos está no Purgatório, passando por um processo de purificação para que possam ascender ao Paraíso.
Nos séculos da Baixa Idade Média, a prática de orações pelas almas dos mortos tornou-se bastante popular na Europa, ficando conhecida pela alcunha de “Dia de todas as Almas”.
Com a “descoberta” da América e o processo de colonização, o dia escolhido por Odilo de Cluny tornou-se ainda mais popular. Hoje em dia, apesar do grande processo de secularização que a civilização ocidental sofreu ao longo da modernidade, o Dia de Finados continua a ser uma data especial, na qual a memória dos entes queridos que já se foram vem à mente das pessoas, que vão, aos milhões, levar suas flores, velas, sentimentos e orações aos cemitérios.