Professores são instrumentos que Deus faz uso na contínua tarefa de melhorar o mundo. Agem com o coração a serviço das gerações futuras. São madrugadores e ao mesmo tempo retardadores do sono. Levantam cedo e se deitam tarde preocupados com a ideia de que o mundo merece ser melhorado todos os dias pelas suas mãos. Apaixonados que são, escravizam suas refeições diárias numa busca incessante de abastecer as mais variadas fomes de sabedoria de seus aprendizes. Infelizmente é uma classe sacramentada pelos salários aviltados pagos por quem não tem nenhum conhecimento da santa tarefa de semear ideias e construir cidadãos. Quem decide o mísero salário dos professores do ensino fundamental, estadual ou municipal, nada mais é do que um fantoche a serviço de uma política desenhada pelos governos que se preocupa em minorar as forças do saber para poder barganhar a ignorância buscada com os votos desejados. Não há motivos que justifiquem, para os professores apaixonados, um menor grau de paixão na lide de suas tarefas. Apaixonar-se pelo ensino significa abrir sulcos na intimidade da alma e do coração das crianças e adolescentes para que as sementes da esperança, da coragem e da força possam penetrar neles e transformá-los em orgulho da família e da nação. Mas está difícil continuar apaixonado. O preço da paixão pelo ensino está ficando cada vez mais caro. O professor não está suportando o menosprezo que lhe é imposto pelos responsáveis dos seus destinos. A educação continua vilipendiada pelos malfeitores, permanecendo empobrecida pelo falso propósito de mantê-la viva, democrática e comprometida com um país sério. Mesmo assim, o professor, que nem mais de veículo dispõe para sua locomoção continua dando carona para os alunos que moram longe do conhecimento, abastecendo seu veículo nos postos da esperança que ficam à margem direita do nada com o mísero dinheiro que lhes esmolam os projetos de reestruturação educacional. Reestruturar a educação para a maioria dos que governam é nada mais que construir escolas, quadras e pátios que em tão pouco tempo serão remodelados e novamente reconstruídos. O dinheiro sagrado destinado à educação é diluído no reboco do piso de um lugar qualquer pela incompetência e pela falta de bom senso de quem tem o poder de gastá-lo. O professor continua apaixonado porque sua tarefa de educar transcende os propósitos da ignorância. Ele não consegue enxergar uma criança em farrapos de informação e dignidade. É triste e dá pena de ter que ver um profissional tão importante na construção da soberania pessoal desapaixonar-se pelo ensino. Sorte que ele protesta. É persistente. Cada vez mais se apaixona pela extrema tarefa de
transmitir conhecimentos e estruturar pessoas para uma vida livre, construtiva e decente. Já não basta entender que parte das crianças procura escolas por causa de merenda. Tristemente constatamos em sala de aula que jovens mal conseguem interpretar um texto ou fazer uma leitura sem erros. São almas fadadas ao desemprego e alienadas por uma vida inteira por falta de escrúpulos de pequena porcentagem de brasileiros que ‘administram’ este país como se fosse terra de seus domínios. É uma vergonha dizer que no Brasil um professor ganha tão pouco, mais vergonha ainda é ter que ouvir que 15% de aumento os colocariam num patamar de dignidade de mestre. Isso é um absurdo. É um percentual sofrível e nada significativo para quem já é ressarcido com migalhas. Gostaria de saber quais homens públicos aqui têm seus filhos ou netos matriculados em escola pública? Fogem para as escolas particulares temendo serem instrumentos de brinquedo nos prédios sujos, de janelas quebradas, carteiras horrendas e professores mutilados pelo pouco que ganham. É lamentável que os governos transformem o sistema educacional num campo de refugiados sem água e sem comida, sem amor e sem dignidade, onde porcos recusariam existir.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - Votuporanga - manuel-ruiz@uol.com.br