Professor MSc. Manuel Ruiz Filho
Se tiver que matar que seja a fome ou a sede. Outras coisas não valem à pena. Preceitos religiosos já o dizem há muitos anos: matar é pecado. É claro que em legítima defesa as pessoas matam, mas nem por isso deixam de cometer crimes. Entendo por pecado aquilo que você não gostaria de sofrer e acaba praticando contra os outros. Isso é pecado. Se não queres para ti por que então isso submete a outros? Matar é contribuir para que o fôlego de vida inspirado por Deus sofra interrupção. A ninguém foi dado esse direito. Mas não me parece só isso não. Matar não é apenas sacrificar o corpo. Matar é interromper sonhos, podar crescimentos e impedir vitórias. Quando deixo de ensinar o que posso eu assassino sonhos e impeço alegrias de futuros brilhantes. Quando desvio verbas e dificulto que a merenda escolar seja distribuída conforme projetos sociais a milhares de estômagos infantis, vazios e desnutridos eu mato vidas. Violento a natureza quando não respeito sua forma singular de existir. Mato também quando me atrevo a poluir as águas límpidas que correm nos rios. Provocar a morte ou impedir que a vida floresça de quem quer que seja para eximir-se da obrigação de encontrar saídas para o crescimento populacional é matar por acomodação e por incompetência. Subtrair do útero fetos indefesos para acomodar situações de sociabilidade ou manter aparência de moralidade é matar em nome da saúde. Praticam o crime não somente os agentes da criação, mas os próprios profissionais que recebem nas mãos míseros valores que os tornam pobres. Nos governos, a mesma consciência que condena o aborto acaba desprezando crianças geradas e criadas à revelia. Quando impeço que o povo tenha a educação merecida eu mato multidões e não deixo florir consciências sadias capazes de renunciar injustiças. Quando dificulto acesso a moradias e faço com que centenas de famílias se acomodem como animais embaixo de viadutos eu mato direitos de civilidade. Quando alimento meus animais com comidas enlatadas e rações de última geração, observando crianças se abastecendo de restos em lixões eu mato o amor ao próximo. Na medida em que desvio doações e outros pertences encaminhados pela sociedade às pessoas vítimas de catástrofes eu alimento necessidades incontidas de fome, de sede e mato esperança de sobrevivência. Quando contribuo para que algumas classes sociais sejam tratadas de forma diferenciada porque são pobres ou negras eu mato o Ser Supremo que me criou. Quando fujo dos meus compromissos, quando não correspondo dignamente com o salário que me é pago eu mato a honestidade que recebi dos meus pais por herança moral. Ao caluniar uma pessoa eu mato a sua reputação afetando suas emoções com sequelas irreparáveis. Quando critico alguém injustamente e sem finalidade de ajudá-lo eu assassino sua autoestima e todo seu entusiasmo conseguido ao longo da vida com sacrifícios. Quando alimento o ódio em meu coração eu mato uma quantidade razoável de mim mesmo. A língua é tão felina e venenosa quanto projéteis mortais. Palavras de uma escritora nos dizem que: “O homicídio existe primeiro na mente. Aquele que dá ao ódio um lugar no coração está pondo o pé no caminho do assassínio”. Quando eu perder a plena consciência de todas as mortes que pratiquei ou que contribui para que vidas fossem sacrificadas de todas as formas possíveis, com certeza, matei a mim mesmo.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho
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