Quando o homem se deu conta que era gente começou a imaginar que o mundo só seria perfeito se as pessoas pudessem ter acúmulo incomensurável de bens. Jamais imaginou que os bens fossem objetos emprestados durante nossos dias de vida para que possamos fazer uso decente deles buscando satisfazer as nossas necessidades e também as dos nossos semelhantes. Apegado aos bens o homem sempre se mostrou escravo da riqueza sacrificando sua própria existência e o bem-estar de todos aqueles que fazem parte de seu convívio. Mal sabia ele que nenhum objeto de valor o acompanha na trajetória da eternidade. Intempestivamente, o homem deixa de viver, simplesmente morre. Ele não esperava isso, pensou que seus dias eram infinitamente intermináveis. Quando se deu conta, do seu lado enxergou um ser muito estranho, com vestimentas negras extravagantes, dizendo-se ser a sua morte. Perguntou o homem a ela: Já? Calma... Calma... Tenho inúmeros planos ainda. Não realizei a maioria deles e nem acumulei riquezas capaz de me fazer o mais respeitado de todos pela sociedade. É uma pena, mas o seu momento é este, respondeu o ser especial. Que trazes na mochila? Perguntou o homem ao ser especial. Os teus pertences, disse o mensageiro. Como assim? Minhas coisas, meus bens, minha conta bancária, minhas joias, minhas escrituras? Não amigo, as coisas materiais não pertencem às pessoas, apenas lhes são emprestadas. Essas coisas são do planeta. Trocam de mãos apenas. Elas estiveram na lista de posses de milhares de pessoas antes de ti e agora passarão a ser utilizadas por outras tantas após sua jornada. Todos os bens são propriedades da terra. Mas, e a minha sabedoria, minha astúcia, meus talentos onde estão? Essas qualidades voltaram para seu dono. Era da circunstância. Mas, meus amigos e familiares, onde estão? Eles não te pertenciam, apenas eram partes de sua trajetória. Minha esposa e filhos estão na mochila? Não, também não eram de sua propriedade, eram apenas de uso do coração. Onde estou? Onde estão minhas roupas? Cadê meu corpo, onde o puseram? Seu corpo voltou para seu dono. A terra o recebeu de volta, assim como um dia te emprestou. Estranho tudo isso. O que represento então se nada tenho fisicamente? Ainda te sobra a alma que neste momento afivela as malas para o Universo. O homem desesperado e cheio de angústia arrancou a mochila grudada ao corpo do ser especial e num brusco movimento a estraçalhou pensando encontrar nela os seus pertences, quando se deu conta que dentro da mochila não havia nada. Estupefato, pergunta ao ser especial: Nunca tive nada? Eram sonhos meus objetivos? Claro que tiveste, respondeu o ser especial. A vida é cheia de momentos e apenas eles são de nossa propriedade. Cada criatura vive os seus momentos e precisa fazer deles o que o Criador espera. Atire fora suas gravatas e seus ternos de riscado, jogue também seus sapatos rangentes, porque sem o ruído deles será mais provável que o Céu te aceite.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - manuel-ruiz@uol.com.br
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