Um homem simples, comum, mas que inspirou em mim grande vontade de vencer obstáculos. Não era letrado, mas me passou as mais sábias lições que pude aproveitar em toda minha vida. Meu pai era assim, como a maioria deles: sensato, coerente e cheio de sabedoria e também era severo nas horas dessa necessidade. Tinha um jeito que era só seu de semear o bem. Sabia ele que seus filhos, todos os dias, precisavam que lhes rasgassem novos horizontes. Meu pai tinha o dom de ouvir, coisa que poucos têm essa paciência. Tinha certeza, quando ouvia, que seus filhos precisavam falar para organizar seus pensamentos e seus sentimentos indispensáveis para o futuro que buscavam. É preciso que haja silêncio dentro da alma para que se possa ouvir bem e ele tinha. As pessoas desabrocham por conta de alguém que lhes dê ouvidos. Por isso precisamos ser ouvidos, mas também ouvir. Sempre admirei a capacidade que meu velho tinha de manter o sangue frio nas horas de crise, quando todos em sua volta já manifestavam ausência de esperança. Era dono de uma santa paciência, de permanecer num hospital ao lado de um enfermo terminal ou de varar a noite num velório, naquela hora crítica em que todos tinham ido embora. Pai, entrar na sua vida foi viver uma glória. Poucas vezes irritou-se com minhas travessuras, mas por nenhum momento fiquei sem teu carinho e seu afeto. Algumas vezes te aborreci e nem por isso fiquei sem a sua ajuda e sua compreensão. O tempo passava e você sonhava com o meu futuro. Poucas vezes entristeci por você me negar um pedido e eu não conseguia entender que a sua decisão era a melhor. Minha voz ficava embargada quando seu olhar severo postava-se sobre meus ombros e me despertava uma vontade doida de conversar contigo, pedir desculpas. Há muito tempo compreendo como foi bom estar ao seu lado na minha infância, adolescência e juventude. Tuas palavras me acompanham até hoje e me ajudam a pisar firme no caminho que me desenhastes. Agora que também desempenho essa santa tarefa de ser pai aprendi saber e calar, a fazer e guardar. Dizer e não insistir. Entendi que ser pai, como tu foste, é ver dor, sofrimento e queda, e jamais transferir aos filhos quota de sua imperfeição. Ser pai é saber ser contestado mesmo quando a consciência e a lucidez nos dão a certeza que temos razão. É esperar. É saber que a experiência só é dádiva de quem a possui e só se enriquece com ela vivendo. Ser pai é suportar o sofrimento e aguentar a dor de ver os filhos passarem por provações necessárias para o crescimento, buscando dar-lhes proteção sem que eles se apercebam para que consigam entender seus próprios caminhos. Ser pai é atingir o máximo de amargura e ansiedade no máximo da quietude. O máximo de convivência no máximo do isolamento. É colher a vitória no momento exato quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver. É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante. Pai, neste seu dia que se aproxima quero apenas que sintas, mesmo onde te encontras o quanto foste importante na minha vida. Sua bênção.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - manuel-ruiz@uol.com.br
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