Dimas e Dênis morreram em combate ao regime militar
Andressa Aoki
Votuporanga perdeu dois filhos torturados e assassinados pela ditadura. Nascidos na zona rural nos anos 40, os irmãos Dimas e Dênis Casemiro deixaram a cidade para tomar a frente na luta contra o regime militar na década de 60.
Dimas atuou no movimento estudantil de Votuporanga. Foi militante do PCdoB, de sua dissidência - Ala Vermelha e da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), antes se tornar militante do MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes).
Ele cuidava da impressão de panfletos do MRT, além de integrar ações armadas do movimento na capital. Uma destas ações custaria a sua morte.
A execução de Henning Albert Boilesen causaria a morte de Dimas. Boilesen era um empresário dinamarquês que era adepto ao regime militar e que financiava a Operação Bandeirante (Oban), centro de informações do Exército na capital. Por conta disso, virou alvo da esquerda.
Em 15 de abril de 1971, ele foi executado a tiros. Segundo militares, Dimas teria sido um de seus algozes. Dois dias depois, quando se aproximava de sua residência, Casemiro foi fuzilado por agentes do Destacamento de Operações de Informações – Coordenação de Defesa Interna (Doi-Codi).
Segundo a versão policial, Dimas teria sido morto no interior do “aparelho” ou “esconderijo” na rua Elísio da Silveira, no bairro Saúde, em São Paulo, ao resistir à voz de prisão, durante troca de tiros.
Sua esposa Maria Helena Zanini e seus familiares acreditavam na versão da polícia, entretanto, após a investigação da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos no arquivo do antigo Dops/SP concluíram com base nos documentos policiais, que a versão do tiroteio foi uma farsa forjada pelos órgãos de repressão política.
Dimas foi enterrado como indigente no Cemitério de Perus, na capital paulista. Ele deixou um filho, Fabiano César Casemiro.
Dênis
No início dos anos 70, Dênis mudou-se para o Sul do Pará para montar as bases de uma guerrilha rural do movimento, a mando de Carlos Lamarca, líder da VPR.
Com a morte do irmão Dimas, as atenções se voltaram para Dênis. O Dops capturou o militante no Maranhão e levou até São Paulo.
Em abril de 1971 foi localizado e preso pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que o trouxe para o Dops/SP, onde seria torturado durante quase um mês e assassinado pelo próprio Sérgio Fleury. A infâmia e flagelo a que foi submetido assim encontra-se relatado no Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985): “[No Dops/SP] onde permaneceu sendo torturado por quase um mês. Durante esse período era sempre transportado pelos corredores daquele órgão policial com um capuz cobrindo seu rosto para impossibilitar sua identificação pelos demais presos. Um deles, Waldemar Andreu, conterrâneo de Dênis, chegou a conversar com ele por alguns minutos. Ele estava confiante de que a retirada do capuz era um sinal de que as torturas acabariam e que o perigo de ser assassinado havia passado”, no entanto, Dênis foi fuzilado em 18 de maio de 1971 pelo delegado Fleury, tendo sido enterrado como indigente além de seus dados serem alterados para não possibilitar sua identificação.
No livro de registro do cemitério onde encontrava-se seu corpo, consta que teria 40 anos, quando na verdade, à época, tinha 28 anos.
A elucidação de sua prisão, tortura e morte começou a ser esclarecida em 1979 durante a campanha da Anistia. Seus restos mortais foram finalmente localizados na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, em São Paulo.
Em 13 de agosto de 1991, seus restos mortais, depois de identificados pela Unicamp, foram transladados para Votuporanga, velados na Câmara Municipal. Antes do translado, houve missa na Catedral da Sé, na capital paulista, celebrada por D. Paulo Evaristo Arns em homenagem a Dênis, Antonio Carlos Bicallho Lana e Sônia Mara de Moraes Angel Jones, assassinados em 1973.