Justiça determinou prisão preventiva de Antônio Laranja; mulher chegou ao DP acompanhada por advogados do suspeito
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
A Polícia Civil de Votuporanga e Valentim Gentil investiga um caso de sequestro que movimentou o efetivo de toda a região e ganhou grande repercussão nas redes sociais na data de ontem. Segundo a investigação, Sidineia Pantano de 37 anos foi raptada e forçada a entrar em um carro no Centro da cidade vizinha pelo ex-namorado, no dia anterior, quinta-feira (16). Após várias buscas, a vítima apareceu na Delegacia de Polícia de Valentim ontem à tarde acompanhada pelos advogados do acusado, que disseram que tudo não passou de um "mal entendido". Entretanto, em depoimento, ela confirmou o rapto, relatando as horas de desespero que passou, e a Justiça determinou a prisão preventiva do indivíduo, identificado como Antônio Laranja.
O pedido de prisão preventiva do suspeito foi determinado na noite de ontem pelo Fórum de Votuporanga e deve ser cumprido pela polícia, que trata o caso inicialmente como sequestro e não descarta que tenha ocorrido uma manobra para livrar o suspeito das acusações, com a apresentação da vítima no DP pelos advogados dele.
Os advogados, Murilo Ferreira e Elias Lente Neto disseram ao A Cidade que história foi divulgada como um rapto que não ocorreu. Na versão deles, o casal mantém um relacionamento e "ficaram juntos" na noite após o sumiço. Ainda segundo os advogados, Antonio Carlos deve se apresentar para prestar depoimento na delegacia apenas na segunda-feira, dia 20. Eles não informaram qual a localização do cliente.
Após se apresentar ao DP, a vítima foi levada para exame de corpo de delito e prestou depoimento para a delegada Karina Tirapelli, na Delegacia Seccional de Votuporanga. No relato, ela afirmou temer o ex-namorado, que foi pressionada a dizer que não foi sequestrada e que estava com ele por vontade própria e contou detalhes das horas de terror que viveu.
24 horas de medo
Segundo a versão dada por Sidinei à polícia, por meio de ameaça e por já conhecer a agressividade do autor, ela obedeceu a ordem dada por ele de entrar no carro após a colisão no centro da cidade. Eles andaram por uma estrada de terra até parar em um a mata. Em seguida, caminharam na vegetação, onde ficaram por muito tempo.
Eles passaram a noite no local. Antônio, segundo a vítima, estava com efeito de crack e apresentava muita agressividade. Nesse período, ele fez contato por telefone com algumas pessoas pedindo água e comida. Quando retornou ao carro, percebeu que havia deixado o farol ligado e o veículo ficou sem bateria.
Ele ligou então para uma pessoa, desconhecida por ela, que foi ao local e buscou os dois, que foram levados para uma cidade que ela não soube identificar. Na sequência, a vítima foi conduzida para uma casa e colocada dentro de um quarto com ele. Sidineia relatou que foi mantida dentro do cômodo sem poder sair. Antônio teria ficado em todo o tempo em poder da chave da porta e do celular dela, fazendo ameaças.
"Senti muito, muito medo. Abalou o meu psicológico. Não desejo a ninguém o que eu passei", disse Sidinei com exclusividade ao A Cidade.
Por algumas vezes, ele saiu do quarto e buscou comida para os dois. Quando amanheceu, o efeito da droga teria passado e ele ficou mais tranquilo. O suspeito também teria começado então a "cair em si" e a conversar com ela sobre a "besteira" que fez. Na sequência, a mulher ouviu ele fazendo contato telefônico com advogados.
Ainda de acordo com o depoimento dado à polícia, um advogado falou com ela e disse que iria até a delegacia para saber com como estava a situação. Pouco depois, retornou o telefonema e contou que a acusação era de sequestro, algo muito sério, e que para que ele não fosse preso, Sidinei teria que "limpar a barra dele". Segundo a polícia, ela teria liberdade desde que dissesse à polícia que estava com o sequestrador de livre e espontânea vontade. Ela concordou, vendo na situação uma chance de sair da casa.
Mais ameaças
Ao deixar do imóvel, teve os olhos vendados, para que não olhasse o local onde estava. Antes dela sair, teria ouvido as maiores ameaças já feitas pelo ex-namorado até hoje. O suspeito, segundo a versão da vítima, disse que se ela não falasse que estava com ele por que quis, iria atingi-la por onde mais amava, que pegaria a filha na escola e iria "enterrá-la sem a cabeça", e que se acaso fosse preso, tem contatos do lado de fora que matariam a família toda dela.
"Ela saiu de lá decidida a falar que estava porque ela quis. Foi levada até perto de um frigorífico onde encontrou os advogados, que a levaram de carro até a delegacia. Quando ela chegou no DP e começou a falar comigo, mostrou nervosismo. Tinha lesões no corpo. Achei estranho o fato de ela estar usando blusa de lã, sendo que estava calor",a firmou a delegada Karina Tirapelli.
A delegada pediu então para os advogados deixarem a sala, já que eles não defendiam a vítima, mas sim o possível autor. Em seguida, Sidineia foi levada para o IML (Instituto Médico Legal), onde passou por exame de corpo de delito, e em seguida para a Delegacia Seccional de Votuporanga, onde prestou o depoimento e contou todos esses detalhes. A vítima afirmou que foi pressionada pelo suspeito a contar que não estava com ele obrigada.
Diante dos fatos, a delegada solicitou na Justiça a prisão preventiva, que foi concedida. Inicialmente, Antônio Laranja deve responder pelo crime de desobediência, por descumprir a medida protetiva que evitava que ele tivesse qualquer contato com a mulher, sequestro e também lesão corporal em veículo automotor.
O sequestro
O sequestro aconteceu na tarde de quinta-feira (16), na região central de Valentim Gentil. Sidineia estava no carro do padrasto, que foi buscá-la no trabalho, quando o veículo foi cercado por carro conduzido pelo ex-namorado, que provocou um acidente. Após a batida, o rapaz abriu a porta do carro do padastro e arrancou a moça, que foi colocada em seu veículo e fugiu.
De acordo com a polícia, a monitora já havia denunciado o tapeceiro por ameaça e tinha conseguido na Justiça uma medida protetiva para que ele não se aproximasse dela.