Leidiane Sabino
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Sueli, Alvaro, Sirlei e Rodrigo são os legítimos, Olívio, Aparecida, Sebastião, Roberto, Maria José, Aparecido, Danúbia, José, Valéria, Márcio, André, Thauany, João, Nadir, Antônio (Zico), Otília e Aninha, os de criação. Estes são os 21 filhos de Clarice Leite Ribeiro, de 64 anos. Morando durante muitos anos no sítio do médico Rui Pedroso, que a ajudou muito, Clarice recebia de coração as crianças que apareciam em sua casa. São 21 histórias emocionantes, que mostram muito amor e dedicação.
Nascida em General Salgado-SP, Clarice mora em Votuporanga há aproximadamente 40 anos. No sítio, alimentos não faltavam. Como as crianças chegavam em épocas diferentes, uns casavam, outros ainda estudavam. Mesmo com essa rotatividade, a casa já contou com 10 moradores. Todos tiveram a oportunidade de estudar, mas também ajudavam no sítio. “Quando fiquei viúva, cansaram de pedir meus filhos e eu não dei. E, quando eu via uma criança sofrendo e sendo entregada para mim pela mãe, sentia que eu devia cuidar, porque, naquela época, eu achava que a família só entregava porque não tinha condições. Eu faria tudo de novo”, disse Clarice, que sente por não ter conseguido dar mais conforto aos filhos, mas é consciente de que fez o possível. “O amor é mesmo por todos. Hoje, muitos moram longe e sinto saudades”.
Com o marido Abílio Monteiro da Rocha, ela teve os filhos Sueli, Alvaro e Sirlei. Ficou viúva aos 19 anos de idade. Com um novo namorado, veio o filho Rodrigo. Com 31 anos, já tinha os quatro. Alvaro já faleceu.
Logo, as crianças começaram a surgir em sua casa. Olívio foi o primeiro. Tinha a mãe muito doente, que queria que ele fosse cuidado por Clarice caso ela falecesse. Foi o que aconteceu. O menino ficou no sítio até se casar. Aparecida era filha de uma comadre de Clarice, frequentava o sítio, ajudava nas atividades por lá e acabou ficando até se casar também.
Sebastião morava com a madrinha, que era idosa, então os dois foram para o asilo. Como ele não podia ficar lá, Clarice o levou para o sítio. Ele só deixou a casa depois do casamento. Roberto era irmão branco de quatro negros, morava em um sítio e era deixado de lado pelos outros. Clarice também o levou para morar em sua casa.
Maria José perdeu o pai e a família ficou em situação difícil. Aparecido tinha mais dois irmãos, a família dele trabalhava no sítio onde Clarice morava. Os pais iam embora e ele ficava, até que não foi mais embora de lá.
Danúbia é neta de Clarice, filha de Sueli. Até os 13 anos de idade morou com a avó. José era irmão de Aparecida, chegou depois, visitava a irmã e acabou ficando.
Valéria era de Jales, foi morar com a família de Clarice para ajudar a cuidar do André. Márcio era irmão de Roberto, também visitava o irmão e acabou ficando.
André foi encontrado por Clarice na rua, com uns cinco dias de vida, quando Clarice já morava em Votuporanga e estava casada com Ronildo Manoel Ribeiro. André é registrado no nome dos dois.
Thauany é sobrinha de Roberto e filha de Márcio. Algumas dificuldades da família fizeram com que ela fosse morar com Clarice aos seis meses de idade. Ela também tem o sobrenome dos pais Clarice e Ronildo.
João, irmão de José, estava com os pais muito doentes, que faleceram e ele foi morar com Clarice. Nadir, irmão de Clarice, foi morar com ela quando a irmã ficou viúva para ajudar a cuidar das crianças.
Antônio ia com a mãe para o sítio trabalhar e também ficou para morar. Otília tinha uns nove anos quando chegou. Ficava na casa de Clarice antes e depois da escola, até que não foi embora mais e se casou com Olívio.
Aninha já faleceu, ia para o sítio, ficava por lá com as outras crianças e não foi mais embora.
André e Thauany ainda moram com Clarice. Sirlei também mora em Votuporanga, mas tem sua casa. Evangélica, aposentada depois de muito trabalho no sítio e no frigorífico em Votuporanga, morando no bairro Chácara das Paineiras, Clarice é exemplo de quem tira de si para dar a quem mais precisa.