Quem está na casa em situação permanente ocupa o tempo com atividades de horticultura
Leidiane Sabino
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Os moradores de rua de Votuporanga possuem um lugar para recorrer, a Comunidade Assistencial Irmãos de Emaús, conhecida como Casa Abrigo, criada há quase 15 anos por um grupo de pessoas da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, entre eles, o padre Edemur José Alves (in memoriam) para oferecer acolhimento e assistência. Hoje, a casa recebe 30 homens em situação permanente e possui mais 10 vagas para quem está de passagem.
Segundo Amélia Marques Nunes (Amelinha), psicóloga da Comunidade, todo o atendimento é gratuito e destino a quem quer ser ajudado, especialmente as pessoas que têm algum envolvimento com bebida alcoólica.
Quem está na casa em situação permanente ocupa o tempo com atividades de horticultura, que é comercializada sendo esta uma contribuição do próprio assistido. São cultivadas hortaliças e legumes. Todos também colaboram com a manutenção da casa, no jardim, na cozinha, na limpeza. Eles recebem orientações de espiritualidade, valores sociais e a importância do trabalho. Cada um decide quando deve sair da casa, quando procurar a família. “Aqui na casa eles recebem ajuda de autoestima, resgate de valores, resgate de um ser humano e vão embora quando querem”, disse Amelinha.
Eles saem da casa apenas com autorização e para algumas atividades importantes. Às 20h, todos os dias, os portões se fecham.
Tanto os que estão em situação permanente quanto os de passagem chegam até a casa por vontade própria, por meio de encaminhamento e informações que recebem da comunidade. O Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) também encaminha, quando necessário, pessoas para a casa.
A entidade é mantida com recursos da Prefeitura, Governo do Estado, comunidade, Paróquia Nossa Senhora Aparecida e com a comercialização dos produtos da horta.
O diretor espiritual da casa é o padre Gilmar Antônio Fernandes Margotto e o presidente João Carlos Teixeira.
A Comunidade Assistencial Irmãos de Emaus, junto com órgãos públicos, estudam uma forma de chegar, abordar e atender os moradores de rua. Por enquanto, o trabalho de visita às ruas ainda não é realizado.
Amelinha disse que os pontos onde podem ser encontrados moradores de rua em Votuporanga são, principalmente, as praças, como a Matriz, São Bento e Santa Luzia. “Não sei precisamente quantos são os moradores de rua da cidade, mas eles não são de Votuporanga, estão aqui na cidade de passagem”, falou.
Mulheres ficam na casa apenas para pernoite, em ala separada. A comunidade atende apenas homens, inclusive, precisa da doação de roupas masculinas.
Testemunho
João Batista da Silva, 36 anos, de Tupã-SP, há uma semana na Casa Abrigo, mostra que está com vontade suficiente para se recuperar do uso do álcool. Depois de passar por quase todas as cidades do estado de São Paulo, morando nas ruas, ele vem de Paranaíba, Mato Grosso do Sul, onde ficou por três meses trabalhando em uma fazenda. “Eu já estive aqui na casa outra vez e me senti muito bem. Agora, depois de ver que não consigo deixar de beber, voltei para cá por vontade própria e quero ficar aqui até estar bem”, disse.
Conhecido por Tupã, João ajuda nas atividades da casa, inclusive na horta.
Fundação
A Comunidade Assistencial Irmãos de Emaús é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos que foi implantada em abril de 1997 no município, com princípio estatutário e finalidade no combate à proliferação de moradores de rua existente na época, assim como atender a população migratória oferecendo acolhimento para pernoites e ajuda no transporte intermunicipal para continuidade do curso de suas viagens. Fundada com o nome de Casa Abrigo Irmãos de Emaús, teve o nome modificada para Comunidade Assistencial Irmãos de Emaús em virtude do nome Abrigo não servir como referência para os órgãos governamentais, e com isso inviabilizando alguns recursos.