Diversos estudos de novos medicamentos são realizados na cidade em conjunto com outros países
Leidiane Sabino
leidiane@acidadevotuporanga.com.br
Pouca gente sabe, ou tinha conhecimento, mas desde junho de 2008, Votuporanga faz parte do cenário internacional da medicina. A cidade mantém uma Unidade de Pesquisa Clínica, responsável por realizar estudos, em conjunto com diversos outras unidades espalhadas pelo mundo, que busca avanços na medicina. A unidade de Votuporanga que fica instalada nas dependências da Santa Casa e tem à frente dos estudos e pesquisas o cardiologista Mauro Esteves Hernandes, já vem se destacando no Brasil e no exterior. Em um estudo que envolve a doença de Chagas, a unidade da cidade ganhou destaque nacional pela grande colaboração, ao reunir o segundo maior número de pacientes com a doença entre as unidades de todo país. Esta semana, o Dr. Mauro Esteves Hernandes e a equipe da Unidade de Pesquisa Clínica de Votuporanga recebeu o Jornal A Cidade para contar mais sobre a importância do município estar envolvido em pesquisas relacionadas à medicina.
A Pesquisa Clínica é um estudo sistemático de medicamentos ou especialidades medicinais em voluntário humanos. As pesquisas desenvolvidas hoje por Votuporanga atendem convites nacionais e internacionais de países como os Estados Unidos, França e Canadá. Ela serve para descobrir ou confirmar os efeitos de um tratamento ou de medicamentos, de forma a determinar sua eficácia e segurança. As instituições que desenvolvem pesquisas estão voltadas para o aprendizado continuo de seus colaboradores, oferecendo assim, um melhor serviço de saúde. Hoje, todos os grandes hospitais participam de estudos multicêntricos internacionais ou nacionais, gerando uma grande troca de informações.
O primeiro paciente que a Unidade de Votuporanga recebeu para estudo foi no dia 9 de maio de 2009, um caso de Chagas. Essa pessoa é acompanhada até hoje. Hoje, são aproximadamente 200 pessoas sendo acompanhadas no município. Não é possível precisar o tempo que um paciente participa da pesquisa, depende de cada estudo.
“Começamos com o estudo de Chagas e Votuporanga é o segundo maior recrutador em Chagas do país. A USP de Ribeirão Preto fica em primeiro lugar. Depois desse, passamos a participar de outros estudos. Com a pesquisa busca-se uma medicação que irá evitar o progresso da doença cronicamente”, explicou o médico investigador principal da Unidade de Votuporanga, Mauro Esteves Hernandes.
As cidades mais próximas que possuem Unidades de Pesquisa são São José do Rio Preto-SP e Barretos.
Renée Costa Amorim, enfermeira coordenadora da Unidade de Pesquisa da Santa Casa de Votuporanga, explicou que existe a Pesquisa de Registro, que mostra como está sendo tratado o paciente em determinada patologia; e a Pesquisa Fármaco (medicamento), que analisa o efeito do medicamento. O voluntário toma as suas medicações indicadas por seu médico normalmente mais a indicada pela Unidade de Pesquisa. Algumas dessas pessoas tomam a droga ativa (o próprio medicamento), já outras, o placebo (que consiste em cápsulas desprovidas de substâncias terapêuticas ou contendo produtos conhecidamente inertes e inócuos) para comparar o efeito do medicamento. Um comitê internacional acompanha a Unidade do município.
As pessoas que participam da pesquisa são voluntárias e assinam um termo de consentimento livre e esclarecido. Para participar é preciso estar enquadrado nos critérios de cada pesquisa, igual para todos os países. Como benefício, Renée contou que, “a pessoa passa a ter acesso a alguns medicamentos ainda não autorizados no Brasil e também medicamentos que teriam custo alto”. Elas chegam à Unidade por meio de indicação do AME (Ambulatório Médio de Especialidades), Santa Casa e dos consultórios.
Renée disse ainda que a pesquisa melhora a qualidade da assistência e mantém a equipe atualizada.
O médico investigador, Mauro Hernandes, contou que as pessoas participantes da pesquisa se envolvem inteiramente. “As consultas são demoradas, os retornos e os exames são frequentes. Elas sabem da importância deste estudo para o desenvolvimento da saúde, para ajudar outras pessoas”, disse.
O médico falou ainda da importância em investir em pesquisa. “A pesquisa clínica tem apenas 13 anos no Brasil, mas ela é extremamente importante porque salva vidas”, ressaltou o médico.
Atualmente, os estudos desenvolvidos na Santa Casa de Votuporanga são em Cardiologia, AVE (Acidente Vascular Encefálico) e Diabetes.
Para ampliar os seus trabalhos, a Unidade busca contribuição financeira. Também precisa ampliar a equipe, a Unidade ainda precisa ter mais um farmacêutico, um enfermeiro, um biomédico, um secretário e seis médicos; além de ampliar a estrutura física.
Equipe da Unidade de Pesquisa de Votuporanga
Investigador principal: médico Mauro Esteves Hernandes
Coordenadora administrativa: enfermeira Renée Costa Amorim
Coordenadora assistencial: biomédica Neyla Albertini Lucas
Sub-investigadores
Médicos: Carlos Alberto Misson Ferreira Filho, Marcos Antônio da Silva e Pedro de Souza Melo
Depoimento
Maria Celeste Lopes de Oliveira Abbas, de 64 anos, professora aposentada, faz parte de uma das pesquisas desenvolvidas. Ela, que sofreu um enfarto em 2009 e foi incluída no estudo em novembro do mesmo ano, contou que foi um prazer poder colaborar. “Fiquei envaidecida de ser uma voluntária humana. Confiei na equipe de olhos fechados, eles são nota 10 e realizam um trabalho muito sério”.
Depois do susto com o enfarto e de ter participado da pesquisa, Maria Celeste mudou radicalmente sua vida. “Deixei de fumar, comecei a fazer caminhada, emagreci 19 quilos e mudei radicalmente meus hábitos alimentares”, contou.
Maria Celeste tem orgulho de ter colaborado com uma pesquisa que beneficiará outras pessoas. “Fui tão bem tratada, estou tão bem. Acredito na pesquisa e estou orgulhosa por ter participado”, finalizou.