"É inadmissível que uma figura pública tenha uma atitude lastimável e inconsequente"
Andressa Aoki
andressa@acidadevotuporanga.com.br
O corpo clínico da Santa Casa de Votuporanga divulgou documento repudiando o
pronunciamento do presidente da Câmara Municipal, Mehde Meidão Slaiman Kanso, durante a sessão ordinária do dia 28. A carta está circulando pela internet desde a última quinta-feira e será distribuída pela cidade.
Os médicos se referem ao caso da morte do garotinho Breno Augusto Cardoso Guimarães, de 2 anos, que morreu depois de ser atendido no hospital. Eles citam como início uma frase de Hipócrates, considerado como pai da Medicina. "Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei o comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher substância abortiva.”
O corpo clínico diz ainda que durante o juramento da formatura, "nós médicos, temos plena convicção de que tudo que venhamos a fazer durante o exercício de nossa profissão não será com o objetivo de aumentar o sofrimento de alguém, muito pelo contrário, nosso objetivo sempre será o de encontrar, amenizar ou acabar com o sofrimento causado por uma enfermidade a outrem".
A carta destaca que um hospital é um estabelecimento de responsabilidades tão
complexas que poucos têm a capacidade de mensurar. É um ambiente em frequente estado de tensão. De um lado contempla o surgimento da vida, que gera alegria e esperança. De outro, em muitas ocasiões, depara-se com o cessar da vida, que produz tristeza, revolta e mesmo desesperanças.
Os profissionais da instituição afirmaram que a última semana trouxe uma grande tristeza para o Corpo Clínico da Santa Casa de Votuporanga, em especial para os médicos plantonistas do Pronto Atendimento deste hospital. "À nossa dor juntou-se a indignação e repudia devido às ofensas que recebemos do presidente da Câmara de Vereadores de nossa cidade, na sessão da Câmara do dia 28 de março de 2011. Ao se dirigir a tribuna da Câmara, nos acusou de assassinos", destacaram.
Segundo o documento, a afirmação de Meidão causou indignação. "Essa ofensa, de dimensões incalculáveis, partiu de uma autoridade pública, formadora de opinião, nosso representante maior no Poder Legislativo, em um momento de intensa dor por parte da família, e sem que ele, procurasse saber as reais causas de tamanha fatalidade.
É inadmissível que uma figura pública, de grande responsabilidade perante a população tenha uma atitude lastimável e inconsequente desta magnitude", emendaram.
Os médicos afirmaram que se abalou um dos pilares da relação médico-paciente, que é a confiança mútua. "E o que dizer ainda de um amigo médico, membro do Corpo Clínico, que ao chegar em casa, seu filho lhe pergunta: “Pai, o senhor é um
assassino?”, ressaltaram. Meidão utilizou a tribuna para criticar o atendimento de urgência e emergência. Na ocasião, o presidente da Câmara afirmou que as mães votuporanguenses estavam de luto e que tomaria providências. "Queremos que as pessoas sejam tratadas com dignidade na rede pública de saúde de Votuporanga", falou.
Segundo o hospital, a criança foi atendida pelo médico pediatra Antônio Seba Júnior, quando foi diagnosticada desidratação de terceiro grau, insuficiência cardíaca decorrente de uma miocardite aguda, o que levou a um choque cardiogênico irreversível, mesmo apesar de todas as tentativas de reanimação e do atendimento.
A criança foi levada para a sala de emergência onde foi atendida por pediatra, neonatologista, residentes e os profissionais da enfermagem, recebendo todos os cuidados necessários. Porém, o paciente apresentou um choque cardiogênico irreversível e às 15h10 evoluiu a óbito.
Leia na íntegra a versão online