Andressa Aoki
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Sentada na sala de espera do Consultório Municipal “Jerônimo Figueira da Costa Neto”, a trabalhadora Maria de Lourdes Orlandeli, de 49 anos, aguarda com ansiedade mais um encontro do grupo de fumantes. Disposta a largar o vício, ela sabe que é preciso ajuda de especialistas para atingir o objetivo.
Maria de Lourdes tem uma família de fumantes, o que propiciou que começasse a fumar com 16 anos. "Meu pai, mãe, irmãos até hoje fumam. Na minha casa, nunca faltou um cigarro, todo dia tinha", disse. Além da família, suas colegas de escola também fumavam no banheiro. "Não percebi que estava me viciando, só notei quando engravidei e não consegui largar o cigarro", emendou.
Ela já parou de fumar por um tempo, mas por conta de um namorado voltou com o vício. "Ele viajou e eu fiquei sem o cigarro. Quando ele voltou e me beijou com aquele gosto amargo. Pensei: ou largo dele ou voltou a fumar, que foi o que eu fiz", recordou.
Uma tragédia familiar também fez com que a trabalhadora encontrasse no cigarro sua válvula de escape. "Meu filho, com 23 anos faleceu e eu fumei muito, porque não conseguia dormir", contou. Nessa época, ela chegou a fumar dois maços por dia. Maria de Lourdes disse que quando não fuma, passa mal, chegando a vomitar. Mas, apesar das dificuldades, ela encontra forças nos filhos, que são seus maiores incentivadores para largar o tabaco. "Vou abraçar os meus filhos e eles não gostam do cheiro. Sou uma dependente química. Quando fumo, parece que estou jogando água gelada em uma fogueira", afirmou.
Com a lei antifumo implantada em São Paulo, a trabalhadora destacou que tem vergonha de ser fumante. "As pessoas me olham diferente, não fumo na rua", disse. É nas reuniões de quintas-feiras, no Consultório Municipal, que ela encontra forças e troca experiências. "O que aprendo é bem legal. A gente tem a consciência de que o fumo faz mal, mas arranjo forças para vencer o vício. Um maço hoje, para mim, dura três dias", comemorou.
A enfermeira Nayana Nasso conhece cada participante. A cada encontro, ela e a médica Tatiana Dotto abordam a história do tabaco, epidemiologia no Brasil, cadastro - teste de Fagestron, importância de parar de fumar, composição química do cigarro, tabagista ativo x tabagista passivo, tratamento do tabagismo, tratamento do tabagismo em condições especiais (idosos, câncer, pacientes hospitalizados), doenças tabaco-relacionadas, tabagismo em ginecologia e obstetricia, tabagismo e saúde mental, tabagismo e saúde bucal, relato de experiências relacionadas a cessação do tabagismo.
"Muitas pessoas procuraram este trabalho porque querem parar de fumar, mas sozinhas não conseguem. Elas viram na gente uma chance e oportunidade de largar o vício", disse Nayana.
E alcançar o objetivo requer disciplina e força de vontade. "No começo começamos com 15 pessoas e, com o tempo, muitos fizeram as inscrições no calor da emoção de parar, e algumas desistem. A gente orienta no que pode, mas depende da força e garra da pessoa", explicou.
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