Mais da metade dos partos realizados no Brasil atualmente são cesarianas, de acordo com uma pesquisa apresentada na tarde desta quinta-feira pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Ministério da Saúde. O estudo, que envolveu 23.894 parturientes em 191 municípios, mostrou que 52% dos partos são por cirurgia, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de até 15%. Na rede privada de saúde, a proporção de cesáreas é ainda maior: 88%. A grande proporção desse tipo de nascimento é considerada “epidemia” pelos especialistas em saúde, por representar aumento no risco de nascimentos prematuros, com riscos de complicações respiratórias para o bebê.
O problema não está na cesariana, especificamente, mas nos agendamentos que podem tornar o parto prematuro. Daí a importância ainda maior da orientação dos médicos. Com os agendamentos, a tendência é de se encurtar a gravidez. E o índice de nascimentos prematuros também é alto no Brasil, de 10%, quando o aceitável internacionalmente é de 3%. “A quantidade de bebês que nasce prematuramente no Brasil tem aumentado assustadoramente. Reduzir esse número é um dos maiores desafios no campo da saúde da criança”, explicou o diretor do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (DAPES), do Ministério da Saúde, Dário Pasche, no ano passado.
A grande proporção de cesáreas, e a concentração maior na rede privada, eram conhecidos. O estudo Nascer Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, no entanto, revela algo que se suspeitava, mas ainda não havia sido comprovado: a influência dos médicos na opção pelo parto cirúrgico. De acordo com o documento apresentado esta tarde, na rede privada, 36% das mulheres que esperam o primeiro bebê relataram, no início da gestação, intenção de se submeter às cesáreas. No fim do período pré-natal, esse índice salta para 67% e, ao fim, 89% terminam optando pela cirurgia.
De acordo com os autores da pesquisa, o medo de sentir dor durante o parto normal, a comodidade de poder marcar o dia e a hora da cirurgia e a influência do médico que acompanha a paciente são algumas das explicações para a grande proporção de partos cirúrgicos.