"Estima-se que 90% dos brasileiros com autismo não tenham sido diagnosticados. Falta informação: nunca foi feita campanha de conscientização no país", diz o psiquiatra Estevão Vadasz, coordenador do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo.
Enquanto nos Estados Unidos pediatras são treinados para identificar os transtornos do espectro autista até os três anos, no Brasil, o diagnóstico é feito, em média, entre os cinco e os sete anos de idade. E não porque se trata de um distúrbio raro: dados divulgados há menos de um mês pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano mostram que uma em cada 50 crianças tem o transtorno. Não há estatística oficial entre os brasileiros, mas especialistas acreditam que a proporção seja semelhante à encontrada em outras partes do mundo.
As famílias que procuram a AMA (Associação do Amigo do Autista) – uma das principais entidades do país - relatam com frequência que foi difícil obter o diagnóstico. "Os pais sofrem, porque o autismo está sendo mais conhecido só agora. Ainda há grande dificuldade de encontrar um profissional que conheça a síndrome. Percebemos que há insegurança do próprio médico", relata Carolina Ramos, coordenadora pedagógica de algumas unidades da associação.
A esteticista Michella Franca, 35, foi chamada de louca e preconceituosa por um psiquiatra infantil por suspeitar que seu filho era autista, já que ele manifestava atraso motor desde os primeiros meses de vida. Consultaram vários neurologistas em vão. "Diziam que ele era mais atrasado por ter nascido prematuro. Mas, à medida que crescia, percebíamos que ele não atendia ao nome, não dava tchau, beijo, nem mesmo os bracinhos quando queria colo", conta. Só receberam o diagnóstico em um centro de apoio a autistas, depois de dois anos. "Eu e meu marido estudamos por conta própria e tínhamos certeza de que ele se encaixava nos transtornos do espectro autista", diz.
Sintomas
De fato, esses são os principais sintomas da síndrome em crianças com menos de três anos de idade. Observa-se, ainda, um atraso na aquisição da linguagem ou uma grande dificuldade de se comunicar com palavras e por contato visual. Bebês com autismo, por exemplo, podem não olhar nos olhos da mãe quando são amamentados. Espera-se que o bebê de um ano e meio consiga construir frases simples e pequenas – a maioria dos autistas não faz isso.