Uma equipe de virologistas dos Estados Unidos anunciou neste domingo (3) o primeiro caso de cura funcional da Aids, envolvendo uma criança que nasceu com o HIV transmitido pela mãe. A pergunta que se faz agora é se esse caso abre caminho para a cura da Aids em adultos. Infelizmente, as respostas não são muito animadoras.
Em primeiro lugar, ainda é cedo para tirar conclusões sobre a eficácia do tratamento usado. "Ainda não se sabe se foi o coquetel que funcionou, se o sistema de defesa do bebê funcionava tão bem, ou se o vírus que a contaminou era menos agressivo", comenta o infectologista Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da USP e médico do Hospital Sírio-Libanês. Além disso, ele ressalta que o estudo sobre o caso ainda não foi publicado.
Outra questão é que, com adultos, é muito difícil agir tão cedo. No caso anunciado, a criança recebeu antirretrovirais menos de 30 horas após o parto, momento em que um bebê pode se contaminar se a mãe for soropositiva. Mas, na maioria dos casos, as pessoas levam meses ou anos até descobrirem que estão contaminadas.
Também é preciso levar em conta que o sistema imunológico de bebês é diferente, por estar em formação. O leite materno também oferece uma proteção extra nessa fase.
Por último, ainda existe a chance de que a criança em questão seja uma privilegiada. "Cerca de 1% das pessoas são o que chamamos de 'controladores de elite', cujo sistema imunológico impede a reprodução do HIV", aponta Kallás. "Ainda não sabemos ao certo o que essas pessoas têm de especial e se isso poderá, um dia, ser replicado em outros pacientes."