A crise do Corinthians no segundo semestre foi, também, uma crise pessoal de Tite, que sofreu com a má fase do time e as incertezas sobre a sua carreira. Com sua saída definida, o técnico assimilou o golpe e curte o adeus em câmera lenta, aliviado após a fase difícil.
A percepção de um Tite mais calmo e brincalhão é recorrente no CT Joaquim Grava, e envolve desde a rotina do treinador até seu trato com funcionários e jornalista. A entrevista coletiva da última sexta foi um grande exemplo do clima mais leve.
Antes de falar por cerca de 40 minutos sobre os mais variados assuntos, Tite bateu papo informalmente com os repórteres enquanto os assessores de imprensa tentavam corrigir uma falha no sistema de som. Com a persistência do problema, o técnico aproveitou os minutos de folga para atender alguns dos vários torcedores que foram ao CT em busca de um último autógrafo.
Quando voltou ao microfone, Tite não se exaltou, como fez em diversas oportunidades nos últimos meses. Pelo contrário. Com bom humor, respondeu a tudo sorrindo, não escondeu de ninguém que vive um momento especial às vésperas do adeus.
Teve, em resumo, a mesma postura que marcou toda sua passagem pelo clube nos últimos três anos e meio. A exceção, na verdade, foi o período de escassez de bom futebol e incertezas, que ele está prestes a superar de vez.
No segundo semestre de 2013, Tite foi o capitão de uma nau rodada, mas que não teve forças pra buscar novos ventos. O Corinthians campeão do mundo mostrou um desempenho pífio no ataque, sofreu com lesões e convocações, vacilou em momentos-chave e viu a chance de uma nova ida à Libertadores ruir.
Tite sofreu com a má fase como poucos no clube. Perfeccionista, experimentou diferentes mudanças, se frustrou com a ineficácia de suas ações e perdeu até peso em seu processo de entrega ao trabalho.
Além de mais magro, Tite tornou-se mais desconfiado. O vazamento de informações dos bastidores incomodou o treinador, que aos poucos foi sendo consumido pela incerteza sobre o seu futuro.
Não por acaso, foi em tom de alívio que ele deu sua primeira declaração após o anúncio de que ele não seguiria mais no clube. "Estou em paz com a minha consciência", disse ele a um grupo de repórteres que estavam na saída do gramado, um dia antes de sua entrevista ao lado de Mário Gobbi.
Neste sábado, sua consciência deve viver um dia especial. Diante de um público confirmado de mais de 30 mil pessoas, o Corinthians fará uma festa no Pacaembu para o treinador, que comandará o clube pela última vez diante da torcida alvinegra, contra o Inter, às 21h.