Zezé da Saev chegou a implorar para que os servidores do grupo de risco trabalhassem em home office, mas pedido só foi atendido esse ano
A servidora municipal Zezé da Saev persistia durante a pandemia na luta para que os servidores do grupo de risco pudessem trabalhar em casa (Foto: Arquivo Pessoal)
Fernanda Cipriano
Estagiária sob supervisão
fernanda@acidadevotuporanga.com.br
A batalha que a servidora pública municipal Maria José Serantoni Vieira Rodrigues, a conhecida Zezé da Saev, se engajou desde o início da pandemia, foi encerrada pelas complicações da doença, que a preocupava há um ano. A funcionária que esteve à frente do pedido de dispensa dos trabalhadores do grupo risco, foi sepultada na terça-feira (16).
Os familiares de Zezé relatam que desde o começo da doença no município, ela tinha muita preocupação e foi uma das funcionárias que pediu insistentemente, com publicações nas redes sociais, para que os servidores com comorbidades ou acima de 60 anos, pudessem trabalhar em home-office, principalmente, na gestão do ex-prefeito João Dado (PSD).
Uma dessas publicações, inclusive, foi retratada em uma reportagem do
A Cidade. Nessa postagem ele pedia, “pelo amor de Deus”, para que o ex-prefeito afastasse os servidores do grupo de risco.
“Houve alguns períodos que a prefeitura possibilitou e não acompanhei isso atentamente, outras em que ela ficou de suspeita, até sair os resultados dos exames e infelizmente ela se contaminou e aconteceu o que você já sabe. Desde o início da pandemia ela tinha muita preocupação com a contaminação do vírus, ela pedia insistentemente com inúmeras publicações em redes sociais”, disse a irmã Tânia Mara Serantoni, em entrevista exclusiva.
O pedido dela, porém, só foi atendido neste ano pelo prefeito Jorge Seba (PSDB), mas infelizmente foi tarde. A preocupação de Zezé nunca foi em vão. A irmã explicou que devido problemas que já tinha na saúde, ela já imaginava que seria difícil de resistir, caso pegasse o vírus.
“A Zezé sempre foi de se preocupar com os outros, de brigar com isso, perdeu um filho muito precocemente por câncer e ela viveu essa luta de hospital, trabalhou em hospitais, ela estava sempre consciente disso de que o vírus é perigoso”, completou.
Na luta diária e no momento mais difícil da pandemia ela se contaminou, segundo Tânia tudo aconteceu de forma rápida e com as dificuldades nesse período maior, acabou não resistindo. “Em menos de uma semana tudo aconteceu. As pessoas precisam ser conscientes, mas só quem passa isso para ter ideia do sofrimento que é, a gente não se via a um ano, nós não nos encontrávamos entre família, nem no final de ano”, disse.
A família já vivia distante pelas circunstâncias, saíam eventualmente e em extrema necessidade, nem ao menos as festas de fim de ano comemoram juntos. “Eu a vi na segunda-feira [passada] quando adoeceu e fui levar lá na casa algumas vitaminas, deixei no portão e conversei com ela a seis metros de distância, foi a última vez que eu vi minha irmã. Fizemos tudo certo, saímos de casa eventualmente, por extrema necessidade, ela também. É por Deus, era para ser”, relatou Tânia.